São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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A polícia e a sociedade

Estruturadas para a consecução de fins sociais, parece inevitável que as instituições em geral conquistem maior ou menor credibilidade junto à população na medida da eficiência com que cumprem suas atribuições. Porém, no caso das polícias Militar e Civil, o descrédito popular que as atinge beira o mais cruel dos paradoxos.
Pesquisa feita nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, publicada hoje pela Folha, indica que a maioria dos habitantes entrevistados nessas capitais (77% e 52% respectivamente) encontra mais pontos negativos do que positivos na atuação das corporações policiais.
A contundência desse juízo popular não está apenas nas cifras -que talvez até sejam aceitáveis, considerando que uma boa parte das pessoas mais críticas do país encontra-se nas duas cidades em que foi feito o levantamento. Causa maior inquietação o fato de que, entre os problemas que mais comumente desabonam a imagem das polícias, estão justamente a falta de segurança, a corrupção e a violência -irregularidades que essas mesmas corporações, por dever de ofício, precisam combater em suas ações diárias. O contra-senso chega ao ponto de 89% dos paulistanos e 86% dos cariocas acreditarem que os policiais em geral estão envolvidos com o crime organizado.
Igualmente objeto de perplexidade é a constatação de que 57% dos entrevistados admitem nutrir muito mais o sentimento de medo que o de confiança na Polícia Militar. Dadas as funções ostensivas e repressivas da instituição, seria de esperar que o temor se manifestasse muito mais entre a minoria dos criminosos e contraventores do que entre os cidadãos comuns.
Trata-se de dados que revelam didaticamente o extremo desvirtuamento das finalidades dessas instituições, bem como o enorme desafio que terão pela frente para reeducar seus agentes.

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