São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Assumiram

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Era uma vez um tempo (longo tempo, aliás) em que o empresariado, em qualquer parte do mundo, fazia questão de dizer que a empresa tinha uma função social.
Não raro, pelo menos na retórica, esse tipo de função era tratado como mais nobre do que a própria produção de uma mercadoria ou serviço, fosse qual fosse.
É verdade que, entre a retórica e a prática, havia uma distância quase sempre intransponível. A função social dos discursos não tinha lá muito parentesco com o comportamento do empresariado, com as exceções de praxe.
Mas, de toda a forma, guardavam-se as aparências. Um pouco porque a doutrina social da igreja, cujos alicerces foram lançados há mais de um século pela encíclica "Rerum Novarum", impregnava comportamentos, ao menos de fachada.
E muito como reação ao comunismo, cuja ascensão pareceu "imparável" na maior parte do século, até que, sem mais, virou pó. Enquanto durou, obrigou o capitalismo a oferecer uma face mais humana do que a busca do lucro.
Agora, acabou. Ou porque o comunismo morreu ou porque já não parece pecaminoso contrariar a tal de doutrina social da igreja.
Na semana passada, o canal alemão de TV Deutsche Welle, captável nas TVs pagas, emitiu um programa sobre desemprego. Um dos entrevistados era Hans-Olaf Henkel, presidente da Confederação da Indústria Alemã.
Em dado momento, o entrevistador pergunta sobre a função social da empresa. Henkel, com absoluta frieza, responde que não é nada disso. Que a obrigação primeira e maior de uma empresa é com ela própria e com seu lucro.
O resto é o resto. Isso na Alemanha, impregnada até as entranhas pela democracia cristã, cujo grande patriarca, Konrad Adenauer, levantou o país das cinzas da guerra (claro que com a generosa contribuição do Plano Marshall norte-americano).
Se liberou geral por lá, imagine-se o que ainda não vem pela frente nestes tristes trópicos.
PS - Fico ausente deste espaço (e só deste) pelos próximos dias, envolvido na cobertura para a Folha da eleição palestina.

Texto Anterior: A polícia e a sociedade
Próximo Texto: Boa notícia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.