São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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Derrubada dos inativos foi aviso de aliados

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma análise da listagem dos votos da primeira derrota sofrida pelo governo no Congresso neste ano levou o comando político do governo à seguinte conclusão: o Palácio do Planalto recebeu um recado bem caro (R$ 1,2 bilhão) de sua base de sustentação política.
Os aliados, de olho nas eleições de outubro, não estão convencidos de tese do presidente Fernando Henrique Cardoso, de que defender o governo "dá voto".
A insatisfação apareceu no painel eletrônico da Câmara no início da noite de quarta-feira, quando os deputados rejeitaram a nova contribuição para servidores públicos federais aposentados, que representaria mais R$ 1,2 bilhão aos cofres do governo.
As queixas têm motivos quase crônicos: indicações não atendidas para cargos, atraso ou recusa na liberação de verbas e falta de resposta para "pedidos" em geral. Alguns parlamentares reclamam até da falta de afago de ministros.
"O coração do nosso universo político é a base eleitoral e o deputado precisa encaminhar os pedidos da base", observa o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), cuja bancada cobra a instalação de uma refinaria de petróleo e benefícios para plantadores de cana.
Um dia após a derrota, Inocêncio foi ao Palácio do Planalto sem ouvir nenhuma bronca de FHC. "O governo não vai passar recibo", disse.
O líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), confirmou o tom da resposta ao recado que FHC recebera: "O governo recebe com naturalidade porque tem de saber perder".
Santos já dava a contribuição como derrotada na véspera, quando foi pressionado pelo ministro do Planejamento, José Serra, a enfrentar a oposição no plenário, mas não esperava tamanha derrota.
O protesto tomou as proporções de uma manifestação de massa. Dos 306 votos contrários à contribuição para os inativos da União, mais de 200 integram a base governista. A debandada atingiu 54% do PMDB, 45% do PFL, 62% do PTB, 69% do PPB e 39% do PSDB -o partido do presidente.
Outro fato que as listagens de computador da Câmara dos Deputados tornaram evidente é a ação dos pré-candidatos a prefeitos nas eleições municipais. Eles são mais de 100 entre os 513 deputados e votaram maciçamente contra a contribuição para os inativos.

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