São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Indústria paulista de suco cítrico recupera o atraso da safra 94/95

ANTÔNIO AMBRÓSIO AMARO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde o início da safra agrícola 1994/95, prejudicada por geadas em julho e por prolongada estiagem até meados de novembro de 1994, ficou evidente que no ano passado a colheita de laranja em São Paulo deveria sofrer atraso de até 60 dias.
Este atraso foi provocado pela maturação mais tardia, uma vez que as floradas também haviam sofrido retardamento.
Nesse sentido, com o significativo avanço que se vem observando no plantio de variedades tardias, a tendência é de que ocorra um deslocamento de maior proporção da colheita para o período entre outubro e janeiro, em relação ao padrão estacional que se verificou nas décadas de 70 e 80.
Como consequência, a indústria, que necessita de fruta com grau correto de maturação, a fim de produzir suco de qualidade, também se viu na contingência de adaptar seu programa de processamento.
Além disso, dado o grande porte de algumas fábricas, há necessidade de as empresas disporem diariamente de pelo menos um volume mínimo de fruta para poder colocar em operação seus equipamentos.
Na safra industrial 1995/96, em função das perspectivas de substancial aumento na demanda no mercado brasileiro (para entre 80 milhões e 100 milhões de caixas), a indústria poderia ter à disposição 225 milhões de caixas, para uma produção prevista de laranja entre 300 e 325 milhões de caixas somente no Estado de São Paulo.
Coincidentemente, a menor produção de suco ajudaria a ajustar os preços no mercado internacional, deprimidos em virtude do excesso de oferta de frutas (estoque mais produção no Brasil e nos Estados Unidos).
Partindo-se dessa previsão e com base em boletins divulgados pela Abecitrus (Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos), tem sido possível fazer um acompanhamento das quantidades mensais processadas, considerando-se um rendimento médio calculado, preliminarmente, em quatro quilos de suco concentrado por caixa de laranja.
Com base nos dados divulgados pela Abecitrus até o fim de dezembro, podemos observar que se confirmou a expectativa de atraso na colheita e no processamento até fins de outubro, quando havia um saldo negativo da ordem de 11 milhões de caixas em relação ao padrão esperado.
Em novembro passado, operando à plena capacidade e com suprimento abundante de fruta, a indústria pôde recuperar o atraso e cumprir o programa pré-estabelecido, atingindo 71% do total, contra 68% que se poderia esperar de acordo com o padrão estacional.
Até 31 de dezembro de 95, teriam sido processados 196,2 milhões de caixas, com um diferencial de 4,9 milhões de caixas em relação ao esperado para dezembro, propiciando até essa data a produção de 784,8 mil toneladas de suco concentrado de laranja.
Certamente, até o final desse mês o programa anual será cumprido, ficando eventual possibilidade de superá-lo, caso surjam alterações no mercado internacional de suco, hipótese pouco provável.
Vale registrar que, nesta safra, também ocorreram profundas mudanças nas relações de trabalho, envolvendo os colhedores de laranja, mas que precisarão ser ainda melhor analisadas.
Como exemplo, cabe lembrar que, em novembro passado, quando a indústria processou 40% a mais que no mês anterior, houve forte e repentino aumento por mão-de-obra para colheita, provocando turbulências no mercado de trabalho.
Em resumo, trata-se de uma safra com fortes alterações operacionais mas que, em termos de volumes de processamento e de produção de suco, está se desenvolvendo dentro de padrões previsíveis e de acordo com a situação atual do mercado internacional de suco e do mercado interno de fruta fresca.

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