São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Importação provoca queda dos preços e gera crise em São Paulo

DA FOLHA SUDESTE; DA FOLHA NORDESTE

A importação de leite dos países do Mercosul (Mercado Comum do Sul) e da União Européia provocou queda de 36%, desde outubro, no preço pago ao produtor e está causando redução de 25% na produção na região de Campinas (SP).
Em outubro, os produtores recebiam R$ 0,25 por litro de leite. Hoje, com a concorrência dos importados, eles recebem R$ 0,16.
A queda na produção ocorre devido à necessidade de cortar custos para competir com o produto importado.
A região de Campinas é a segunda maior bacia leiteira do Estado, com produção de quase 300 milhões de litros de leite por ano, 14,4% do total de São Paulo.
A região de São José do Rio Preto lidera a produção, com 15% do total.
O rebanho produtor da região de Campinas reúne 610 mil cabeças, segundo Leonel Melichenko, diretor da Dira (Divisão Regional Agrícola).
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite B, Jorge Rubez, o leite importado geralmente é subsidiado em seus países de origem e, por isso, chega ao Brasil custando menos que o nacional.
"Na União Européia, por exemplo, os produtores recebem R$ 0,36 por litro do mesmo leite que chega ao Brasil custando R$ 0,17. Não concorremos com a competência, mas com privilégios", disse Rubez.
O Brasil importou no ano passado mais de 200 mil toneladas de leite em pó. As importações de leite longa vida e de creme de leite somaram mais de 60 mil toneladas.
"O problema se agravou devido à coincidência de um grande volume de importação recebido pelo Brasil no final de 95, já no período de safra", explica Jorge Rubez.
O produtor Roberto Felipe Cantusio, diretor do Sindicato Rural de Campinas, disse que teve que reduzir a ração dos animais para cortar custos e, com isso, diminuiu sua produção de 1.000 litros por dia para 750 litros.
A chegada de leite dos países do Mercosul na região de Ribeirão Preto fez os laticínios reduzirem em até 15% o preço do leite e em 30% o valor cobrado pelos derivados desde o início de janeiro.
Apesar da redução, o leite tipo longa vida argentino chega a ser vendido nos supermercados da região de Ribeirão Preto por até 18% menos que o nacional.
A Usina de Laticínios Jussara, de Franca (SP), reduziu o preço do leite tipo C de R$ 0,65 para R$ 0,60, segundo Laércio Barbosa, diretor comercial da empresa.
Celso Silva, gerente do supermercado Sé, de Araraquara, disse que a empresa importou o leite longa vida "La Sereníssima" da Argentina, vendido a R$ 0,65/litro.
Segundo ele, o leite Parmalat custa R$ 0,80, uma diferença de cerca de 18%.
Ele não quis revelar o volume de leite importado, mas afirmou que todo o estoque já foi comercializado.
"Foi um teste para medir a reação do público", disse Silva.
Laércio Barbosa, da Jussara, afirmou que a empresa vai inaugurar uma fábrica de leite longa vida em fevereiro próximo, como estratégia para competir com os importados.
A nova fábrica terá capacidade inicial para produzir até 1,5 milhão de litros de leite por mês.
Irineu de Andrade Monteiro, representante dos produtores da região na Câmara Setorial do Leite, disse que a falta de uma política para o setor deve agravar a situação dos produtores, que acabam recebendo menos das indústrias.
Segundo ele, os produtores chegaram a receber, em 1994, cerca de R$ 0,24 por litro, contra a média de R$ 0,18 paga atualmente pelas indústrias.
A insegurança entre os produtores de leite fez com que alguns pecuaristas deixassem a atividade.
Demétrio Bittar, de Franca, que era considerado um dos maiores produtores da Alta Mogiana (6.000 litros por mês), disse que abandonou a atividade por causa da baixa rentabilidade e da falta de perspectivas para o setor.
Bittar afirmou que, com a saída da atividade, no final de 94, acabou perdendo investimentos de cerca de R$ 1 milhão.

Colaborou a Folha Nordeste.

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