São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Alencar quer distinção entre vício e tráfico

DA SUCURSAL DO RIO

O governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), disse ontem que é a favor de leis que façam a distinção entre viciados em drogas e traficantes. "Sou a favor que se faça essa distinção, dizendo quem é a vítima e quem é o algoz."
No dia anterior, em Petrópolis (66 km do Rio), o governador dissera, em tom de brincadeira, que poderia fumar maconha no caso de disputa entre defensores e críticos da descriminação.
Alencar voltou a defender o aprofundamento do debate sobre o assunto, afirmando que vê nas drogas "a raiz de toda a violência urbana que estamos enfrentando".
O arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal dom Eugenio Sales, divulgou uma nota criticando, de forma indireta, as declarações de Alencar. O cardeal disse que o que ocorre em Ipanema é "um apoio à infração à lei".
"Ficamos estarrecidos quando pessoas de responsabilidade e, creio eu, algumas não viciadas, advogam a descriminação desses fatores de tantos infortúnios."
O prefeito do Rio, César Maia (PFL), evitou atacar o governador, mas disse que suas declarações "não ajudam o debate sobre o uso de drogas". Segundo Maia, há uma confusão entre descriminação e liberação da droga.
Descriminar, segundo o prefeito, é não penalizar a pessoa que comprovadamente fizer apenas uso da droga, mas reprimir o traficante. O tráfico, segundo ele, deve continuar sendo reprimido.
O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Gama Malcher, disse que a maconha deve ser reprimida porque seu princípio ativo, encontrado em todos os entorpecentes, causa vício e normalmente seu usuário procura drogas mais fortes, como cocaína.
O representante da União Nacional dos Estudantes no Conselho Estadual de Entorpecentes, Rogério Rocco, elogiou o governador por "colocar de forma aberta a discussão sobre maconha, enquanto outros governantes normalmente teriam cuidados excessivos".
No final da tarde, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) se reuniu com o secretário de Segurança do Rio, general Nilton Cerqueira, e tocaram no assunto. Gabeira disse não ver necessidade de concentrar policiamento no Posto 9. Segundo ele, Cerqueira afirmou que sua filosofia de trabalho visava apenas combater o tráfico de drogas.

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