São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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Cheque ou cartão?

FERNANDO CANZIAN

SÃO PAULO - A dívida pública interna brasileira (do governo federal, Estados e municípios) aumentou mais de 30% no ano passado em comparação com 1994. Ultrapassou R$ 200 bilhões.
Esse número representa um emaranhado de papagaios. Municípios e estatais que devem para fornecedores, Estados que devem para bancos estaduais, bancos que devem para o Banco Central, e por aí vai.
R$ 200 bilhões representam hoje 31% do PIB (Produto Interno Bruto), que é a soma de tudo o que o Brasil consegue produzir em um ano. Por essa comparação, o endividamento interno brasileiro não pode ser considerado uma aberração. Ainda não. Mas o problema está na velocidade do crescimento dessa dívida e na capacidade de pagá-la.
O atual governo (FHC, Pedro Malan e companhia) pegou uma situação cômoda em termos de endividamento público. Sucedeu, com Itamar Franco ainda no comando, ao governo Fernando Collor, que, ninguém vai esquecer, congelou a poupança dos brasileiros.
Nos subterrâneos, o calote ousado por Collor produziu um encolhimento brutal nas dívidas do setor público. Por isso, de um ponto de vista muito otimista, o vertiginoso aumento de 30% das dívidas no ano passado ainda não teve efeitos tão devastadores.
Em 95, os débitos públicos cresceram a reboque do aumento de gastos com o funcionalismo e das taxas de juro. Na média, o juro flutuou em torno de 32% ao ano. O Estado de São Paulo, por exemplo, entrou em 95 devendo R$ 34 bilhões e saiu com R$ 50 bilhões -sem fazer empréstimos novos.
A solução para diminuir dívidas em épocas de juro alto é uma só: pagá-las. Ocorre que ninguém tem feito isso. São Paulo, por exemplo, gasta tudo o que arrecada com funcionários e despesas.
Por isso, novamente, o governo federal está partindo, no caso dos Estados, para a solução mais simples -de propor a rolagem dos papagaios por mais 30 anos. E, a cada negociação, o Tesouro Nacional assume uma parte dos compromissos dos outros -sem falar em entendimentos mais a curto prazo, como no pitoresco caso do Banespa.
A estratégia parece boa já que, ao migrarem para as mãos do Tesouro, as dívidas ficam cada vez mais próximas de quem provavelmente vai pagar a conta no final -você.

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