São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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O novo PMDB

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Os poderes de comunicação do presidente Fernando Henrique Cardoso devem mesmo ser excepcionais. Depois de dar 51 votos contra o projeto do governo que previa a cobrança previdenciária de funcionários públicos aposentados, agora o PMDB imagina ser possível aprovar essa idéia em nova votação.
Pelo menos é essa a previsão do líder do PMDB na Câmara, deputado Michel Temer (SP). "Esclarecendo muito bem e os ministros indo até as bancadas, eu acho que o governo pode sensibilizar os deputados sobre o assunto", afirmou ele ontem a esta coluna.
O fato é que o PMDB saiu oxigenado dos afagos que recebeu do governo na semana passada. O presidente do partido, deputado Paes de Andrade (CE), recebeu FHC em sua casa para um almoço. Depois, o próprio FHC chamou cerca de 40 peemedebistas para outro almoço no Palácio da Alvorada.
Nesse meio tempo, as coisas ruíam dentro do Congresso para o governo. Agora, dois almoços depois, o PMDB enxerga a possibilidade de votar de forma diferente na questão dos inativos.
"A gente percebeu que muitos que votaram contra nem sabiam no que estavam votando", disse Michel Temer. Obviamente, o líder peemedebista está se referindo aos deputados. Isso mesmo: parlamentares teriam votado sem entender um projeto de lei que valia R$ 1,2 bilhão de arrecadação por ano.
A maior confusão que se faz nesse caso é pensar que todos os aposentados brasileiros teriam de passar a pagar uma contribuição mensal para a Previdência. Isso é um erro.
O governo queria que apenas os servidores públicos aposentados pagassem -servidores que se aposentaram com o último salário integral e quase nunca pagaram INSS. Só de 93 para cá os funcionários públicos são obrigados a pagar regularmente a Previdência como os trabalhadores da iniciativa privada.
É justíssima a proposição do governo. Mas foi necessário o extraordinário poder de comunicação de FHC para convencer os parlamentares a mudar de opinião. Por quê?
Há duas hipóteses: 1) FHC é mesmo muito comunicativo e seus ministros e líderes péssimos no bate-papo ou 2) está muito mal contada essa história de almoços que servem para mudar opinião de tantos deputados ao mesmo tempo.

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