São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Deputado faz ficção com verba de estradas

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O sub-relator de infra-estrutura, deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG), fez um orçamento de ficção com as verbas disponíveis para parlamentares em rodovias federais. Ele destinou R$ 200 mil para cada parlamentar, quando o custo médio por quilômetro de conservação é de R$ 100 mil e R$ 300 mil para construção.
Ele reconhece que fez um "orçamento de ficção" porque, na maior parte dos casos, os R$ 200 mil não são suficientes para nem sequer iniciar as obras.
Segundo o deputado, era a única forma de atender aos pedidos de parlamentares, que disputam R$ 250 milhões em recursos para emendas em projetos do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem).
"Recebi pressões insuportáveis. Há um discurso público favorável às emendas de bancada e uma pressão insuportável para aplicar verbas nas emendas pessoais dos parlamentares", disse à Folha.
Na quinta-feira, a Comissão Mista de Orçamento rejeitou o relatório de Saraiva sob o argumento de que ele destinou 37% das verbas a Minas, sua base eleitoral.
Com isso, ele foi obrigado a fazer um novo relatório, que será submetido hoje novamente à comissão. Os parlamentares que seriam beneficiados com o relatório rejeitado já lamentam não terem aprovado a primeira versão. "A emenda saiu pior do que o soneto", reclamou ontem o deputado Pinheiro Landim (PMDB-CE).
Saraiva atribui a resistência ao seu primeiro relatório a disputa entre o PFL e o PMDB por verbas na área de transportes, sobretudo num ano de eleições municipais.
O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), considera que só um acordo com as demais lideranças permitirá a aprovação do relatório na comissão.
No total, o sub-relator possui R$ 320 milhões em verbas nas áreas de transportes, comunicações, ferrovias e portos. Os parlamentares sugeriram 1.118 emendas, que somam R$ 11 bilhões.
Além de destinar R$ 200 mil para cada parlamentar, Saraiva também atendeu a 127 emendas de bancadas, que são as realizadas por mais de dois terços da representação de cada Estado, com o mesmo valor -R$ 2 milhões.
O Estado mais prejudicado foi São Paulo, que perdeu R$ 55 milhões adicionais ao R$ 138 milhões previstos para a construção da ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná.
A ponte servirá a uma ferrovia privada, operada pelo grupo do empresário Olacyr de Moraes. Ela ligará o Mato Grosso do Sul aos terminais da Fepasa. A obra, defendida pela bancada paulista e pelo governador Mário Covas (PSDB), é considerada prioritária pelo Ministério dos Transportes.

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