São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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O herdeiro

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

- Abraços, cumprimentos pela maturidade política.
A saudação de Boris Casoy, em entrevista com Vicentinho, indica o respeito reunido pelo petista, em uma semana.
Vicentinho é um petista que negocia -que aceita e toma parte da democracia.
Enfrentou o centralismo do PT e saiu, das tantas entrevistas na televisão, como o herdeiro de Lula. Lula melhorado.
A diferença é o pragmatismo -na autodescrição feita por Vicentinho. Uma comparação também do próprio, sem citar Lula, no Roda Viva:
- Nós estamos dispostos a discutir a questão, métodos... Mesmo porque, se era tcham no passado você ser torneiro mecânico, hoje o tcham é ser torneiro mecânico de máquina de controle numérico. Há uma diferença profunda. Investir na educação é fundamental.
- Eu estou na fábrica, eu estou acompanhando o que está acontecendo lá dentro.
Em tudo, Vicentinho é filho e inimigo de Lula. Também sem falar diretamente de quem quer que seja, continuou:
- Nós estamos acostumados a fazer como faz o cachorrinho quando corre atrás do carro. Corre, corre, corre, e quando o carro pára, ele não sabe o que fazer com o pneu.
É a mais perfeita tradução das experiências petistas com o poder. Vicentinho chegou até a aproximar-se das críticas do PSDB ao PT. Exemplos:
- Se não puder negociar, eu fico apenas com o papel de só dizer não, não, não.
Ou ainda:
- A modernização, essa coisa fantástica do computador, da robótica, é extremamente positiva, desde que no ganho da qualidade seja incluída a qualidade de vida.
- Não se pode introduzir uma nova tecnologia que gere fome. Não se pode introduzir tecnologia nova, moderna, que provoque o atraso.
Um espectador de Fortaleza empolgou-se tanto que mandou um fax ao herdeiro:
- Não sou chegado muito à política, mas desde já pode contar com o meu voto para presidente da República.
Vicentinho sorriu, muito sem graça.
Negociar
- Governar não é fácil. Tem que negociar todo o tempo.

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