São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Leia a íntegra da fala de FHC

Leia a seguir a íntegra do programa "Palavra do Presidente"

Todos nós estamos cansados de ouvir e de ver notícias de brasileiros que passam horas nas filas dos hospitais, à espera de um atendimento, e de outros que morrem nos corredores, por falta de atendimento.
Essa é uma situação grave, que é consequência de uma política errada de saúde, que foi mantida durante décadas.
E onde estava o erro da política da saúde? É que, antes, se cuidava do homem quando ele já estava muito doente e não para evitar que ele ficasse doente. Só que essa política, que investiu em hospitais e equipamentos sofisticados, não é acessível a toda a população. O correto seria investir mais na prevenção de doenças. Como não se fez isso, os resultados são conhecidos: hospitais superlotados.
Isso é muito grave, pois 80% dos casos atendidos, hoje, em hospitais e grandes prontos-socorros, poderiam ser resolvidos nos postos e nos centros de saúde, próximos da população.
Felizmente, essa situação está mudando em vários municípios, graças a algumas medidas que o governo está adotando: a descentralização do serviço de saúde, com os municípios assumindo a responsabilidade pela saúde da sua população e a implantação de dois programas, o de agentes comunitários de saúde e o de saúde da família.
Já falei dos agentes de saúde, aqui no rádio. São aquelas pessoas que trabalham na própria comunidade onde vivem e que orientam a população sobre cuidados básicos de saúde, como a importância do aleitamento materno e da vacinação.
Hoje, são 40 mil agentes de saúde. A meta é chegar a 50 mil, até o final do governo. E, se continuarmos nesse ritmo, vamos superar os 50 mil. O trabalho dos agentes de saúde quase não aparece, mas está ajudando a melhorar as condições de saúde de milhares de brasileiros que sempre foram excluídos.
E, hoje, vamos detalhar melhor outro programa: o saúde da família, que já foi implantado em 171 municípios. O ministro da Saúde, Adib Jatene, vai explicar como tudo isso funciona.
Ministro Adib Jatene: Presidente, com o programa de saúde da família, nós estamos mudando radicalmente para melhor a forma de atendimento na rede básica de saúde.
Eu vou explicar como funciona: uma equipe de saúde da família é composta por um médico, uma enfermeira, uma auxiliar e cinco ou seis agentes comunitários e é responsável pelo atendimento de determinada comunidade, em geral entre 600 a 1.000 famílias. Essa equipe não fica o tempo todo no centro de saúde, esperando que os doentes apareçam. Elas visitam as famílias nas suas residências.
Para começar a trabalhar, a equipe cadastra todos os moradores, o que fica facilitado, porque os agentes moram na comunidade há pelo menos dois anos. A partir daí, acompanha a saúde de cada um dos moradores, conhece cada um deles e sabe como vivem.
Os agentes comunitários visitam cada casa do seu setor pelo menos uma vez por mês. E tanto o médico quanto a enfermeira vão visitar a família, sempre que necessário. Quando não conseguem resolver o problema na residência, encaminham o paciente, seja para o especialista que (...) no centro de saúde ou para o hospital.
E o bom é que, como a equipe é responsável por aquela comunidade, ela acompanha todo o caminho que o paciente percorre e recebe a orientação dos especialistas e orienta, de perto, quando a pessoa volta para a sua casa.
Essa nova política, presidente, está reduzindo muito a procura de hospitais em todos os locais onde o sistema está implantado. De cada cem pessoas atendidas pelas equipes de saúde da família, apenas nove precisam ser encaminhadas a especialistas ou hospitais.
Eu tenho certeza de que essa é a maneira mais democrática de fazer a saúde chegar até a população. Em muitos municípios a parceria é tão forte que a equipe de saúde está ajudando a resolver outros problemas da comunidade, como saneamento básico e segurança.
Esse modelo existe em outros países, como na Inglaterra e no Canadá. Nós temos, hoje, 687 equipes que estão atuando, principalmente, nos Estados do Nordeste, mas já se instalaram em outros Estados, inclusive das regiões Sul e Sudeste.
Eu sonho, presidente, é que consigamos, durante o seu governo, mudar o modelo assistencial brasileiro. E, como disse uma enfermeira supervisora de Olinda, nós podemos não mudar tudo, mas nós estamos fazendo tudo para mudar.
Nós precisamos, sem dúvida, da moderna tecnologia, da medicina de alta tecnologia, que atende a todas as camadas da população. Mas de que adianta equipar bem os grandes hospitais, se não se resolve os problema onde tudo começa: lá, na família, que precisa receber instrução, orientação para evitar ou, pelo menos, não agravar a doença.
Os programas de agentes comunitários de saúde e das equipes de saúde da família, que o senhor vem apoiando, provam que é possível resolver esses problemas usando melhor os recursos.
FHC: E nós vamos conseguir isso, ministro. Mas essa não é uma tarefa só do senhor, como ministro da Saúde, ou minha, como presidente da República. Todos têm de fazer a sua parte.
Os governadores e prefeitos precisam mudar os sistemas de saúde em seus Estados e municípios. E um dos caminhos é a implantação desses dois programas: o dos agentes de saúde e de saúde da família.
E, para garantir os programas, o Ministério da Saúde precisa de dinheiro. E é por isso que quero fazer, aqui, um apelo aos nossos parlamentares, para que aprovem o chamado imposto da saúde. Precisamos desse dinheiro para levar a um número cada vez maior de municípios esse novo modelo de política de saúde, para que o Brasil ganhe, enfim, um sistema de saúde pública que prolongue a vida e melhore a saúde dos brasileiros.

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