São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Só país sem memória pode legalizar fumo

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Digamos que a turma do apito, que alerta maconheiros nas praias do Rio para a chegada da polícia, conseguisse comover o Congresso. Digamos que o Congresso, então, liberasse a maconha. Geral. Já pensou?
Eis algumas sugestões sobre o tipo de mudança que poderia ocorrer neste nosso Brasil veranil:
1) No Rio, diminuiria sensivelmente a venda de apitos.
2) Por conta da larica, nos tornaríamos um país de obesos.
3) Por conta da paranóia, o Carnaval, como o conhecemos, seria extinto. E passaria a constar no calendário apenas como festa religiosa.
4) Por conta dos ataques de riso, seriamos um país de bobos-alegres.
5) Contrariando a crença popular, o crime diminuiria. Afinal, não existe bandido, por mais fanático que seja, que, depois de fumar um baseado, não tenha preguiça de levantar do sofá para sair assaltando.
6) Os Washingtons Olivettos e Nizans Guanaes da vida fariam campanhas ma-ra-vi-lho-sas para a Philip Morris e a Souza Cruz.
7) Haveria um aumento brutal na venda de discos de reggae.
8) O quilo da maconha passaria a ser cotado na bolsa de commodities.
9) Os adeptos do Santo Daime trocariam de religião. E se tornariam rastafarianos.
10) Os Raimundos virariam todos caretas. Só para chatear.
11) O prefeito Maluf iria proibir a maconha em restaurantes e shopping centers. Enquanto isso, o pessoal dos Jardins continuaria a cheirar cocaína à vontade nos banheiros.
12) Em visita oficial ao Brasil, o presidente Clinton poderia experimentar o fumo local. E tragar.
13) Pernambuco se tornaria o Estado mais próspero do país.
14) Aliás, o Nordeste inteiro tiraria o pé da lama.
15) O Congresso teria de criar novas tarifas para o Paraguai.
16) As plantas nas floreiras dos prédios seriam bem mais frondosas.
17) Diminuiria dramaticamente o fluxo de turistas jovens e/ou ex-hippies para a Holanda.
18) Tudo seria zen.
19) E, finalmente, seriamos MESMO um país sem memória.

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