São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Vêm da África as esperanças santistas

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Arthur Kennedy, até outro dia, era apenas uma forte referência para o crítico de cinema Inácio Araujo e seus pares: aquele sóbrio e competente protagonista de alguns clássicos "noir" e bangue-bangues. A partir de segunda à noite, Arthur e Kennedy passaram a ser as mais novas e exóticas esperanças santistas, importadas por Pelé diretamente da África do Sul para a Vila famosa. Mais o plebeu e célebre sobrenome do que o real nome.
Sim, porque Kennedy, esse neguinho fino de corpo e bola, que fez sua estréia no Torneio Início, encantou a Vila no empate de 2 a 2 com o Grêmio. Canhoto, habilidoso, rápido nos gestos e nos reflexos, ele parece ter vindo de longe, no espaço, para um reencontro da torcida com tempos ainda mais distantes. Tempos em que, de repente, num jogo como esse, Lula mandava um crioulinho desses entrar em campo. Então, ocorria o sortilégio. E ali, naquela areia disfarçada em grama, nascia mais um craque: Dorval, Coutinho, Edu ou mesmo Pelé, nome e sobrenome eram irrelevantes.
O que contava era aquele jeito especial de sorrir com a bola nos pés. Um sorriso alvo no rosto escurecido de um futebol que já se contaminava pela sisudez da competitividade.
Que sejam bem-vindos Arthur e Kennedy, lembranças da velha Mãe África, esperanças de luz no alvinegro da Vila.
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Zagallo voltou, elogiando muito os meninos pré-olímpicos que, na noite de domingo, perderam a Copa Ouro para os mexicanos, lá nos EUA. Afinal, sem tempo adequado de treinamento, os meninos foram além do esperado. No elogio, a condenação da esculhambação do nosso futebol, presidido pela CBF de Ricardo Teixeira, seu patrão. Perdemos, é verdade, para a falta de um calendário decente e para a cancha encharcada. Mas perdemos também, e sobretudo, para a conexão perfeita entre o armador Garcia e o aríete Blanco e para a forma anacrônica como atuou nossa defesa, o que, no caso de Zagallo, um mestre na montagem da cozinha, é imperdoável.
Ao contrário do que reafirmam à exaustão nossos locutores, a linha burra não é aquele expediente de provocar o impedimento do adversário. A linha burra, assim cunhada pelo saudoso Saldanha, é a fixação de quatro zagueiros sem nenhuma sobra, à entrada da área. Passou por um, passou por todos. E Blanco passou por todos, o tempo todo.
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Chegou ao Morumbi um zagueiro que fez nome no Brasileirão: Sorlei. Prestes a ser catapultado, Gilmar, o mais completo zagueiro brasileiro em atividade por aqui. Nem precisava de um nariz tão exagerado como este para sentir o cheiro de mofo que toma conta do Morumbi.
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E o Ajax, que não ganha mais de ninguém, perguntam-me os maliciosos amigos. Litmanen está no estaleiro; Kluivert vive sob a ameaça de ir em cana por ter atropelado uma pessoa etc. Resposta: é praga dos medíocres.

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