São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Moleque fanfarrão

THALES DE MENEZES

Local: Paris. Data: junho de 1993. Na quadra 3 do parque de Roland Garros, dois garotos disputam uma partida da chave juvenil do Aberto da França.
Os dois têm 17 anos. Um deles é australiano, alto como uma porta e bate forte. O outro é um italiano mirrado, típico jogador de fundo de quadra que se preocupa exclusivamente em devolver certo e manter a bola em jogo.
O australiano saca com uma força assustadora, mas o que poderia ser uma vantagem decisiva no confronto é anulada pela quadra de saibro. A chuva tinha parado poucos minutos antes e a terra molhada prende a bolinha no chão.
O australiano lidera o placar no primeiro set por 6/5 e tem o saque. Faz 40/30 e tem um set ball a seu favor. Dá o primeiro saque, que fica na rede. Dá o segundo e manda a bola pelo menos cinco centímetros fora da área de saque.
O juiz aponta ace, para revolta de parte da torcida e do tenista italiano. O australiano, declarado vencedor do set por 7/5, senta em sua cadeira. Depois de muito reclamar, o italiano se conforma.
No segundo set, o australiano acerta uma passada paralela no adversário. O juiz, em novo equívoco, dá a bola como fora. O australiano vai à loucura e reclama sem parar. O juiz parece irredutível.
Aí o tenista italiano, beneficiado pelo erro, entra no meio da discussão para declarar que a bola tinha sido boa e o juiz deveria dar o ponto ao adversário.
Diante disso, o árbitro resolve voltar a disputa do ponto.
O australiano ainda reclama e o italiano dá seu apoio. "Não há motivo para voltar a jogada. Ele ganhou o ponto e pronto", diz o italiano, aplaudido pela torcida.
Depois do jogo, vencido pelo australiano por 7/5 e 6/4, os dois tenistas saem da quadra e se encaminham para o vestiário. Andam um metro à frente deste colunista.
"Eu fui honesto, mas você não agiu direito quando tiraram meu ponto", diz o italiano. "Você é um idiota", reage o australiano. O técnico do adversário começa a soltar uns palavrões em italiano.
O australiano faz uma cara de quem não está nem aí. Depois, sentencia: "Eu vou ser um grande tenista. Você é um idiota que só vai se ferrar na vida!"
O italiano sumiu do noticiário. Prova de que ter espírito esportivo não basta para ser profissional.
O australiano fanfarrão que prometeu ser grande tem 19 anos, se chama Mark Philippoussis e eliminou o número 1, Pete Sampras, do Aberto da Austrália.

Notas
E Chanda Rubin continua demolindo favoritas na Austrália. Depois de eliminar a argentina Gabriela Sabatini, venceu um jogo-maratona contra a espanhola Arantxa Sanchez e se classificou para enfrentar Monica Seles na semifinal. Agora a barra vai ser mais pesada. Seles tem jogo suficiente para acabar de vez com o sonho australiano de Rubin.
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A suíça Martina Hingis, que enfrentaria na madrugada de hoje a sul-africana Amanda Coetzer pelas quartas-de-final, acaba de firmar um contrato milionário na Austrália. Para usar roupas de uma marca italiana pelos próximos cinco anos, vai receber US$ 3 milhões na mão e mais US$ 1 milhão por ano. Fazendo as contas, ele vai receber US$ 8 milhões antes de ter completado 20 anos.
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E, por incrível que pareça, tem gente achando que ela fez um mau negócio. São as pessoas que apostam que Hingis chegará ao topo do ranking dentro de dois ou três anos. Atualmente, ela é a 20ª colocada no ranking da WTA. E é realmente muito bonita. Se ela conseguir associar seu charme à condição de número 1 do mundo, Martina Hingis vai se tornar o melhor produto de marketing no tênis do fim do século.

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