São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Professor da USP chefia o Instituto Camões

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

João Paulo Monteiro, professor de filosofia aposentado da USP, assumiu no início do mês a presidência do Instituto Camões, em Portugal. O Instituto é o órgão do governo português responsável pelas relações culturais com outros países.
Monteiro tem dupla cidadania, brasileira e portuguesa. Ensinou durante 30 anos na USP. Sua indicação para o Instituto revela a disposição do governo português de fazer do Brasil uma de suas prioridades, pelo menos em termos de cultura.
"O Brasil é a primeira prioridade", disse Monteiro, em entrevista por telefone à Folha na semana passada. Ele estará no país em março, acompanhando a visita oficial do primeiro-ministro português Antônio Guterres.
Vai aproveitar a visita para encontrar "o amigo Francisco Weffort", ministro da Cultura, e iniciar negociações para os planos que traçou e para os quais pretende obter a parceria do governo brasileiro e de empresários.
Monteiro quer abrir centros culturais portugueses em capitais brasileiras: São Paulo, Rio (reativação do Palácio São Clemente), Curitiba, Salvador. "Pessoalmente, gostaria também de ver um centro brasileiro ser aberto em Lisboa", diz Monteiro.
Ele afirma que o Instituto Camões possui recursos do orçamento federal português. Embora não saiba ainda quanto será, Monteiro diz que o próprio instituto financiará a abertura dos centros culturais no Brasil e seu funcionamento básico. Para garantir o crescimento das atividades, vai buscar parcerias.
"O Brasil possui uma lei de incentivo à cultura (Lei Rouanet) que poderemos usar para expandir os centros. Além disso, queremos contar com a ajuda da própria comunidade portuguesa." A Lei Rouanet concede descontos no imposto de renda para pessoas e empresas que patrocinem cultura.
Outra iniciativa imediata de Monteiro foi solicitar a criação, no Brasil, de novos postos de adidos culturais. Hoje, existe apenas um adido, junto à Embaixada de Portugal em Brasília.
Para o novo presidente do Instituto Camões, a parceria com o Brasil não servirá apenas para aproximar os dois países, mas também para aumentar a presença da língua portuguesa no mundo.
"A língua portuguesa não tem a repercussão mundial que deveria ter", afirma. Para aumentar essa presença mundial, acredita Monteiro, é indispensável a ação conjunta.
Uma ação que, embora tenha no Brasil seu principal parceiro, se estende para todos os países de fala portuguesa. Na semana passada, Monteiro viajou para países africanos de língua portuguesa, sua primeira viagem internacional no posto. O Instituto vai procurar a integração cultural de todos esses países. Além disso, fortalecer a divulgação da língua e da cultura nos países de fora da comunidade lusófona.
"Especialista em Brasil", como se auto-define, Monteiro acredita que as tensões que às vezes surgem no relacionamento Brasil/Portugal são fruto de equívocos.
"Às vezes há equívocos. Houve resistências ao acordo ortográfico, por exemplo, mas agora estão todos convencidos", afirma, já se exercitando nas exigências diplomáticas do novo cargo.

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