São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
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Líder palestino recusa volta

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

George Habach, líder da FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina), diz que não volta aos territórios palestinos, apesar de autorizado por Israel.
Atualmente na Síria, Habach é membro do CNP (Conselho Nacional Palestino), organismo supremo dessa tribo dispersa pelo mundo, e ideólogo de alguns dos atos terroristas mais cruentos de décadas atrás.
Habach não volta porque diz que todos os palestinos devem ter o direito de retornar a sua terra, não apenas os membros do CNP.
É uma forma de colocar o dedo na ferida mais difícil de fechar entre Israel e palestinos, nas negociações que começam em maio para definir o status final da região.
Só no Líbano, há 350 mil palestinos (10% da população). Trata-se, na maior parte, de deslocados pela guerra de 1948, em que Israel se firmou como Estado.
Na Jordânia, há entre 1,8 milhão e 2 milhões, em uma população total de 4,1 milhões.
O direito de retorno para casas na parte norte de Israel, e não apenas nos territórios que Israel está agora devolvendo aos palestinos, tem o endosso da ONU, por meio da resolução 194, de 1948.
Diz a resolução que "refugiados que quiserem voltar para suas casas e viver em paz com seus vizinhos devem ter permissão para fazê-lo o mais cedo possível".
É improvável ela deixe de ser letra morta. Mas, a partir de maio, serão discutidas questões vitais:
1) Jerusalém - É reivindicada como capital pelas duas partes. Os palestinos querem o lado oriental, em que são maioria. Os israelenses negam-se a dividir a cidade.
Negativa que vem não apenas dos radicais. Mesmo o premiê Yitzhak Rabin, assassinado justamente por ser acusado de ceder aos palestinos, dizia, ao assinar o acordo chamado Oslo 2: "Jerusalém unificada continuará como capital de Israel, o que é inegociável".
Outro liberal, o ex-prefeito de Jerusalém Teddy Kollek, sugere que os palestinos construam uma capital em qualquer cidade árabe. "É um erro Arafat insistir na questão de Jerusalém, porque os palestinos ficarão sem capital."
2) Colonos judeus e territórios - Em parte pela presença de colônias judaicas, em parte por alegações de segurança nacional, Israel só cedeu aos palestinos cerca de 5% da Cisjordânia.
Ou, como prefere Eduard Said, ex-membro do Conselho Nacional Palestino, hoje na Universidade de Columbia (EUA): "Os palestinos terão o controle civil de 5% da Cisjordânia. Israel terá o controle exclusivo de 8% referente às colônias (fora aquelas ao redor do setor oriental de Jerusalém) e também o controle efetivo sobre o todo".
"A Palestina parece um queijo suíço, em que os palestinos ficam com os buracos, e as tropas e colonos israelenses, com o queijo", diz a revista "Newsweek".
A partir de maio, Iasser Arafat, agora como presidente eleito, tentará pôr um pouco mais de queijo em seu fraturado território.
(CR)

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