São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Países são semelhantes na área científica

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Por mais diferentes que possam ser culturalmente, Índia e Brasil são muito parecidos em um aspecto da cultura: a ciência. Os dois possuem as maiores e mais produtivas comunidades científicas do Terceiro Mundo, e mesmo suas políticas científicas são parecidas.
A Índia é uma grande exportadora de software, algo que o Brasil está procurando imitar com o programa Softex 2000 do Ministério da Ciência e Tecnologia.
A grande diferença é a necessidade indiana de pesquisa militar.
A Índia esteve em guerra com o Paquistão -a última vez, em 1971- e teve conflitos de fronteira com a China. Essa situação trouxe um grande investimento no equipamento das Forças Armadas. Já o Brasil, sem inimigos potenciais, tem um dos menores percentuais de gasto militar em relação ao PIB (Produto Interno Bruto).
O nacionalismo científico dos dois países se reflete na recusa em assinar tratados na área nuclear considerados "discriminatórios".
Apesar de o Brasil ter feito acordos com a Argentina que evitaram uma corrida para a construção de bombas atômicas, ele se recusa a assinar o TNP -Tratado de Não-Proliferação- por considerar que o TNP busca impedir o acesso dos países que não têm a bomba a usos pacíficos da energia nuclear.
A Índia foi ainda mais longe. Em maio de 1974, uma bomba nuclear foi explodida sob o deserto de Rajasthan, no nordeste do país. A potência da explosão ficou entre 10 kilotons e 15 kilotons, pouco menos do que a da bomba explodida sobre Hiroxima, em 1945.
Desde então nada mais foi anunciado sobre a existência de um programa nuclear militar indiano. É provável que o país tenha um número pequeno de bombas nucleares. Um dos resultados da explosão de 1974 foi a aceleração das pesquisas nucleares do Paquistão, país que provavelmente já tem a tecnologia para fazer a bomba.
Os indianos também têm interesse em pesquisas na área nuclear porque são detentores -como o Brasil- de grandes jazidas de tório em areias monazíticas.
O tório é um metal radiativo cuja exploração potencial como combustível nuclear poderá revolucionar o panorama energético. O tório pode ser usado em um novo tipo de reator nuclear chamado "regenerador", capaz de reproduzir o seu próprio combustível.
Outro ponto em comum com o Brasil é a política espacial. Os indianos também desenvolveram veículos lançadores de satélites, foguetes que podem ser teoricamente convertidos em mísseis para o transporte de armas atômicas.
Os indianos estão bem mais avançados no setor. Já testaram com sucesso um foguete capaz de lançar em órbita baixa (de algumas centenas de quilômetros de altitude) um satélite de até uma tonelada. O brasileiro VLS, além de ainda não estar pronto, tem capacidade de carga bem menor.
A atividade aeroespacial já trouxe aos dois problemas com o xerife do setor, os EUA, que temem a proliferação de mísseis balísticos, que, além de bombas atômicas, poderiam lançar armas químicas.
Os indianos também conseguiram levar adiante seus projetos militares comprando tecnologia no Oriente e Ocidente. A Marinha comprou do Reino Unido o porta-aviões Hermes, da frota que retomou as Malvinas dos argentinos em 1982. A escolta do porta-aviões, entretanto, é feita por fragatas armadas com mísseis russos.

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