São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Sundance Festival tem poucos filmes de qualidade

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE PARK CITY

Poucos filmes bons e muitos muito abaixo de qualquer expectativa. Mas o melhor de tudo é a oportunidade de se praticar cinema que o Sundance Institute e o seu festival oferecem para cineastas independentes e novos talentos. O melhor dos longas da competição até a primeira metade do festival é "I Shot Andy Warhol", de Mary Harron.
Movido pela paranóia e manias persecutórias típicas do final dos anos 60 e início dos 70, o filme tem uma perfeita recriação de época em torno de Andy Warhol e do grupo de artistas por ele envolvidos no projeto The Factory.
Warhol é personagem secundário. Quem comanda o espetáculo com uma interpretação impressionante é Lili Taylor como a lésbica radical Valerie Solanas, considerada a "Joana dÁrc" do pré-feminismo.
O filme de Harron tem a agilidade de guerrilha urbana. Taylor parece uma personagem de um documentário. Valerie Solanas viu em Warhol um ladrão e sabotador das suas idéias, a ponto de tentar matá-lo.
Outro filme que promete carreira internacional depois da competição de Sundance é "Meet Ruth Stoops", de Alexander Payne, com Laura Dern no papel de uma junkie viciada em cheirar cola. Grávida e presa, a fiança da sua liberdade é paga por uma família que dirige um movimento provinciano contra o aborto nos EUA. A comédia de humor negro ganha agilidade quando outra facção, a favor do aborto, acena para ela com um prêmio em dinheiro.
O melhor entre os documentários em competição fica entre "Hype!", de Doug Pray, e "The Battle over Citizen Kane", de Thomas Lennon e Michael Epstein. A tese do filme sobre o confronto do magnata da imprensa William Randolph Hearst e Orson Welles é que o único vencedor da história é o filme "Cidadão Kane".
É um belo filme sobre a coragem praticamente suicida de um jovem talento que se inspirou para o seu filme de estréia na vida de um dos mais poderosos homens da América.
"Hype" é outro bom documentário sobre coragem e irreverência com irônicas críticas ao superlativos da moda adotados por todos os segmentos da imprensa. O filme vai atrás das origens dos grupos punk, heavy metal e do movimento grunge em Seattle, nos EUA.
Na seção dos lançamentos americanas "Carried Away", de Bruno Barreto, foi um escândalo.
Barreto foi buscar inspiração para o seu desconcertante filme erótico na novela "Farmer", de Jim Harrison.
O que chocou a platéia foi a longa sequência de nudez frontal do ator Dennis Hopper. O filme é americano, mas o soft-porno de Barreto tem todo o jeito brasileiro.

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