São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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FAT saturada

FERNANDO CANZIAN

SÃO PAULO - FAT em inglês significa gordura. No Brasil, é a sigla de Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Apesar do nome nobre, o fundo constantemente é usado para subsidiar juros a agricultores atolados e Estados endividados, entre outras coisas que nada têm a ver com quem pega no batente.
Agora, o Ministério do Trabalho promete tirar R$ 1,3 bilhão do FAT para criar empregos e treinamento.
O anúncio foi feito anteontem a sindicalistas pelo ministro Paulo Paiva, que promete empregar e qualificar 5 milhões de pessoas com os recursos.
Como o desemprego que está aí não é de hoje, o anúncio agora soa como afago do governo nos trabalhadores para manter "imexível" o acordo da Previdência acertado com as centrais.
De qualquer forma, a nova decisão é justa, já que o FAT arrecada o dinheiro diretamente no bolso do próprio trabalhador, dos consumidores e de contribuintes em geral.
É legítimo também colocá-lo não apenas em novos empregos, mas em treinamento. Hoje, em qualquer lugar do mundo, trabalhador não educado é futuro desempregado.
No Brasil, coitados, mais da metade dos trabalhadores com mais de 25 anos (23,2 milhões) passou menos de cinco anos na escola, segundo o IBGE.
Mas o R$ 1,3 bilhão de Paiva representa apenas uma pequena fatia do FAT. No total, o gordo fundo chega a ter R$ 7 bilhões por ano.
Cerca de 60% do total, dizem, costuma ir para outra causa justa, o seguro-desemprego. E os 40% restantes para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que usa o dinheiro para financiar empresas e -em tese- criar empregos.
No encontro de anteontem, os sindicalistas pediram a Paiva que dê aos trabalhadores mais controle sobre a parte do FAT que fica com o BNDES.
Para tentar convencê-lo, um diretor do sindicato de Canoas (RS) chegou a contar ao ministro o caso de uma empresa que recebeu R$ 95 milhões do FAT para mudar-se de São Paulo para o RS e que, na mudança, acabou demitindo 300 pessoas.
Paiva disse que a coisa não é bem assim e ficou de dar uma resposta aos trabalhadores mais para frente. Afinal, a negociação da Previdência ainda não está tão dura assim.

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