São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Isto é Covas

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - O leitor de jornal que vive fora de São Paulo dificilmente saberá o significado das siglas Cetesb, Ceagesp e Dersa. Para poupar espaço, é melhor uma explicação sucinta: são empresas estatais paulistas.
Junto com outras estatais, as citadas do parágrafo anterior devem cerca de R$ 7 bilhões ao Banespa. O Banespa é um dos bancos estatais paulistas.
Em nome da manutenção da autonomia do Estado de São Paulo, o governador Mário Covas passou quase o ano passado inteiro se remoendo para salvar o Banespa da barafunda em que governantes anteriores o enfiaram.
Covas conseguiu. Custará cerca de R$ 15 bilhões. Desses, R$ 7 bilhões são as dívidas das estatais paulistas com o banco. O valor equivale a cerca de cinco projetos Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
As dívidas das estatais, conforme revelou esta coluna no último domingo, vão sumir dos balanços. Passarão para o Estado de São Paulo -que promete pagá-las em 30 anos à União.
O brasileiro que paga impostos financiará esse privilégio. Dinheiro da saúde ou educação será gasto para manter o Banespa sob a batuta de Mário Covas.
Mário Covas acha isso normal. Na sua concepção singela de mundo, forjada nos anos 50 e 60, nada há de mal em gastar dinheiro do contribuinte para manter essas empresas ineficientes em poder do Estado.
"Se é do Estado, é do povo", repetem os adeptos das máximas covistas. "Não há comprador para o Banespa" é outro argumento comum.
Tudo bem. Mas será que não existe um comprador para o Ceagesp -o armazém onde o Estado vende tomate e batata para os feirantes?
Na realidade, acontece agora o fim de uma era. Amantes do Estado passaram anos combatendo o autoritarismo e chegaram ao poder. Covas é um desses.
São democratas, homens de bem. Mas têm a cabeça parada em outra época, outro mundo. Covas, depois de ser prefeito biônico, finalmente ocupa um cargo executivo pelo voto direto. Ficou décadas pensando em como mandaria em tantas estatais.
Agora, lhe dizem que é melhor privatizar. "Não dá", deve pensar.
É fácil compreender Covas. Felizmente, para sorte geral, sua geração um dia acaba.

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