São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Brasileiro tenta alcançar o Pólo Norte

CAROLINA OVERMEER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Seguindo o ponteiro de sua bússola, o alpinista Thomaz Brandolin, 35, chefiou a primeira escalada brasileira ao monte Everest, no Himalaia, em 1991.
A expedição chegou a 7.100 metros de altitude, mas não fincou a bandeira brasileira no topo do mundo, com 8.848 metros.
Agora Brandolin acerta os detalhes para mais uma conquista gelada que se inicia em abril e parte rumo ao Pólo Norte magnético.
Aventureiro experiente, Brandolin -que já participou de várias expedições à Antártida, Andes, Patagônia e Alasca- vai percorrer a pé e em 30 dias cerca de 400 km sobre o mar congelado do Ártico.
Seu único acompanhante será um cachorro esquimó.
Veja a seguir como estão os preparativos para a expedição:
ROTEIRO
Primeiro vou para Resolute, um vilarejo localizado na ilha de Cornwallis, ao norte do Canadá, para me aclimatar e treinar durante 15 dias com os esquimós. Depois, um aviãozinho fretado vai me deixar 100 km mais ao norte (no paralelo 75o norte), numa ilha onde vivem algumas pessoas que trabalham com minério de zinco. É de lá que começo a caminhada.
Vou andar cerca de 400 km, a maioria sobre o mar congelado. Pretendo contornar a ilha Bathurst, seguir até a ilha Helena, fazer uma travessia em alto-mar de 108 km até a ilha King Christian e dali seguir mais uns 50 km até o Pólo Norte magnético.
Chegando lá vou me conectar por rádio com Resolute e um avião irá me buscar.
RUMO AO NORTE
O Pólo Norte magnético é o ponto para onde as bússolas apontam. Eu sempre tive curiosidade de conhecer esse lugar.
OUTRAS AVENTURAS
Já estive duas vezes na Antártida como alpinista do Programa Antártico Brasileiro; quatro vezes nos Andes e três vezes no Himalaia, sendo que uma delas foi a primeira expedição brasileira ao Everest, em 91.
Também estive uma vez no Alasca, escalando o monte McKinley, que é a montanha mais alta da América do Norte, com 6.200 metros de altura.
CONDIÇÕES ADVERSAS
Numa noite no Himalaia enfrentamos a temperatura de -40oC.
No Pólo Norte, em abril, o dia já começa a durar 24 horas, mas ainda está frio o suficiente para manter o mar congelado.
A temperatura deve oscilar entre 19 e 26 graus negativos e, por incrível que pareça, a bússola pára de funcionar quando começa a chegar muito perto do Pólo Norte magnético.
Vou estar equipado com dois aparelhos GPS, que dão localização por meio de satélite, e, em último caso, vou me guiar pela posição do Sol.
Na travessia de 108 km em alto-mar, onde não vou ter nenhuma referência visual, precisarei andar exatamente na direção do pôr-do-sol.
ROUPAS ESPECIAIS
A roupa usada para esse tipo de expedição é a mesma usada em expedições de montanhismo. Tem quatro camadas: a primeira é colada ao corpo, feita de capilene, uma fibra sintética que absorve o suor e mantém a pessoa seca.
A segunda e a terceira são feitas de poliéster bem grosso e felpudo, como um carpete, que retém calor.
A última é um casaco de goretex, náilon impermeável e ao mesmo tempo respirável.
Essas camadas funcionam para o corpo todo, dos pés à cabeça. Enquanto estiver parado, se o frio apertar, ainda terei um casaco forrado de pena de ganso.
Nos pés, será preciso calçar uma bota de esqui especial, desenvolvida no Canadá. COMPANHIA
Um cachorro esquimó vai me acompanhar e espantar os ursos que aparecerem no caminho.
É uma espécie de cachorro-lobo, adaptado ao ambiente -ele só come duas vezes por semana, nunca bebe água e dorme ao relento mesmo no alto inverno.
Vou conhecê-lo em março, quando chegar a Resolute.
Esse tipo de cão costuma se alimentar de carne de foca, mas, durante a expedição, provavelmente vai comer algum tipo de ração preparada pelos esquimós.
Ele vai carregar seu próprio trenó com a comida.
SUPRIMENTOS
Vou carregar o meu trenó também, com barraca, fogareiro, combustível (benzina), comida etc. O meu cardápio diário não pode pesar mais de 1 kg e será baseado em uma alimentação bem energética, com bastante gordura e proteína.
OBJETIVO
O Pólo Norte magnético é um deserto gelado. Não é um ponto fixo, mas um ponto flutuante, numa área enorme.
As paisagens mais belas da expedição estarão no caminho e não no lugar onde vou chegar. Espero ver o Sol da meia-noite, focas, ursos, lobos e ouvir o silêncio de um lugar desabitado.

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