São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 1996
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Fazendeiros prometem reagir a invasões

HELCIO ZOLINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Antonio Ernesto de Salvo, disse à Folha que o aumento das ocupações de terras e a omissão do governo poderão provocar uma situação de violência generalizada no campo.
"Estamos no limiar do perigo, a um passo do desastre e da violência generalizada", disse Salvo.
"Ou o governo cumpre a lei, coíbe as invasões e prende os responsáveis, ou a violência se expandirá. Os proprietários rurais não vão mais aceitar esse tipo de coisa. Eles chegaram no limite e vão reagir. Vai virar em tiroteio e morte e isso não vai beneficiar ninguém", afirmou.
Salvo disse que, além de enfrentar o problema da violência, o governo precisa rever a sua política de reforma agrária no país.
"Da maneira como ela vem sendo implementada, sem oferecer um treinamento adequado ao beneficiário, já deu para provar que é inviável", afirmou.
"Nenhum dos assentamentos promovidos pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) nos últimos dez anos foi emancipado e o número de proprietários que, a cada ano, perde ou vende seu imóvel, devido à baixa rentabilidade da agropecuária, é maior do que as metas de novos assentados que o governo anuncia", disse.
Segundo Salvo, para assentar as 280 mil famílias nos quatro anos de mandato de Fernando Henrique Cardoso, como prevê o programa de governo, serão necessários cerca de R$ 14 bilhões (aproximadamente R$ 50 mil por família).
"Se formos atender o doutor Rainha (José Rainha Jr,, líder dos sem-terra em São Paulo), que acha que são 4 milhões de famílias que precisam ser assentadas, serão necessários R$ 200 bilhões. De onde virá esse dinheiro? Será que a sociedade deseja isso? Desviar recursos da saúde, habitação, transporte e colocá-lo num negócio fadado ao fracasso?", disse.
O presidente da CNA disse que, se a pessoa não tiver vocação e conhecimento agropecuário, não terá como assegurar sua propriedade.
"Não adianta só dar terra e enxada. É simpático, mas não funciona. É preciso ter competência para produzir e se tornar um fazendeiro eficiente. Isso só vem com vocação e conhecimento técnico."
Segundo ele, "o que tem ocorrido até agora é desperdício. O governo dá a terra, mas o assentado não consegue mantê-la. Ele acaba repassando a propriedade para um fazendeiro. O Incra talvez nem saiba disso. Ele tem sido marido traído nessa história".
Salvo afirmou que o governo deveria instituir um sistema de crédito fundiário ao alcance das pessoas. O dinheiro poderia vir do próprio Incra. O órgão deveria destinar parte dos cerca de R$ 1,6 bilhão, que gasta anualmente com o custeio de sua máquina, para financiar a compra de terras.
Segundo Salvo, as pessoas seriam cadastradas e teriam direito a um crédito com taxas de juros negativa para poder comprar a terra.
"O período de implantação desse assentado seria condizente com a sua capacidade de pagar o empréstimo. Além disso, o poder público exerceria uma ação fiscalizadora, para verificar se o novo proprietário tem vocação", afirmou.
Segundo Salvo, a ocasião para introduzir esse sistema não podia ser melhor. "O preço da terra está muito baixo", afirmou.

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