São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 1996
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História de "Sleepers" é contestada nos EUA

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

O jornalista Lorenzo Cascaterra, 43, lançou no ano passado um dos livros mais polêmicos dos últimos tempos nos EUA: "Sleepers", uma suposta autobiografia sobre sua adolescência em um reformatório nova-iorquino.
O livro ficou durante três semanas na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times" na categoria de não-ficção.
Em "Sleepers", Cascaterra conta como ele e outros quatro amigos foram espancados por guardas do reformatório em que eram internos, e como os amigos planejaram e executaram a morte do "carrasco" anos depois.
O livro fez tanto sucesso que foi transformado em filme pelo diretor Barry Levinson ("Assédio Sexual"), com um superelenco.
Robert de Niro fará um padre amigo de Cascaterra e seus amigos. Brad Pitt interpreta o promotor do julgamento dos assassinos do guarda e Dustin Hoffman, o advogado de defesa.
Por causa das milhares de cópias vendidas, Cascaterra foi acusado de ter inventado toda a história. Segundo seus acusadores, o livro não passa de pura ficção.
Filho de imigrantes italianos, ele foi criado no "Hell's Kitchen", região portuária de Manhattan dominada pela máfia até o início dos anos 80.
Antes de virar escritor, Cascaterra trabalhou dez anos no tablóide "Daily News" e outros sete anos em diversas TVs locais.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
*
Folha - Afinal, "Sleepers" é ou não ficção?
Cascaterra - Claro que não! Essa acusação é injusta e eu acho que só tem uma explicação: como eu não era exatamente da área, o sucesso do livro incomodou muita gente.
Folha - Então por que você não revela o nome do reformatório, já que ele nem existe mais?
Cascaterra - Porque se fizer isso vou terminar revelando a identidade dos meus amigos. E prometi que os manteria anônimos.
Folha - Você não teve medo de complicar sua vida ao expor detalhes da adolescência?
Cascaterra - Não porque não fiz nada ilegal, não participei do assassinato. Meu maior temor ao escrever o livro foi o de não implicar meus amigos.
Folha - O sucesso de "Sleepers" te surpreendeu?
Cascaterra - Claro! Quando a gente passa três anos trancado num escritório escrevendo, o máximo que dá para esperar é que algum editor vá gostar do trabalho.
Folha - Você participou das filmagens de "Sleepers"?
Cascaterra - No início, sim. Colaborei com o roteiro e ajudei Barry Levinson a contratar "experts" em reformatórios. Tive que me afastar na época da gravação porque estava viajando pelo país para promover o livro.
Folha - Por que você demorou 30 anos para escrever o livro?
Cascaterra - Porque foi o tempo que precisei para conseguir digerir tudo o que aconteceu. Sou repórter desde os 20 anos e poderia ter contado essa história no jornal. Mas eu precisei chegar aos 40 para conseguir falar sobre aquela época.

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