São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Perda da Amazônia toma imaginação militar

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

Especialistas em assuntos militares vêem a Amazônia como o ponto mais vulnerável do território nacional e defendem ações das Forças Armadas para garantir a soberania na área.
A Amazônia é o cenário mais provável de um conflito bélico no país, na visão do vice-almirante da reserva Armando Amorim Ferreira Vidigal, 68, ex-comandante da Escola de Guerra Naval.
Vidigal é hoje conferencista da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Escola de Guerra Naval, Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica e Escola Superior de Guerra.
"Não é um absurdo", segundo ele, imaginar duas situações para uma possível intervenção da ONU (Organização das Nações Unidas) na região. A primeira seria para assegurar a preservação da floresta, sob o argumento de que a depredação prejudicaria a humanidade. A segunda seria uma declaração de independência da "nação ianomâmi", com o reconhecimento pela ONU de um país onde está a reserva indígena, com 9 milhões de hectares.
"Há sempre o risco. O melhor é ter uma grande capacidade de dissuasão, mostrar que sairia muito caro intervir em nosso país", diz.
O diretor do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, coronel da reserva Geraldo Cavagnari, 61, diz que, o Brasil tem que assumir obrigações decorrentes do fato de ser a "única" potência da América do Sul. Além disso, na sua opinião, o Brasil deve se preparar para rechaçar uma ação da ONU em favor da "nação ianomâmi": "Se isso ocorrer, devemos acabar com a farra, mesmo contra o Conselho de Segurança da ONU."
Cobiça
O conselheiro da ESG (Escola Superior de Guerra) Jorge Boaventura, 74, diz que o Brasil deve ficar atento à tendência do Conselho de Segurança (EUA, Grã-Bretanha, Rússia, China e França) de assumir a noção de "soberania relativa" em áreas de "interesse da humanidade", como a Amazônia.
"A Amazônia é altamente cobiçada como reserva mineral e natural por países com peso na condução de assuntos mundiais", diz Boaventura. Segundo ele, o controle do espaço aéreo da região é fundamental.
Cavagnari, Boaventura e Vidigal defendem a "vivificação" das áreas fronteiriças no norte do país. Eles pregam a retomada do projeto Calha Norte, que estimula a criação de núcleos urbanos.
O brigadeiro da reserva Ivan Frota, 65, afirma que o temor de uma guerra com a Argentina "faz parte do passado" e que o único cenário de conflito no Brasil seria a eventual reação para impedir a ação da ONU na Amazônia.
A soberania nacional hoje, segundo ele, corre outros riscos, que não passam por confrontos bélicos. "As conquistas de hoje já não se fazem com guerra, mas com informação, propaganda, pressões econômicas e políticas", afirma.

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