São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Laranjal luta contra problemas e má fama

"Beiradão" é o lado pobre do Jari

EDUARDO BELO
DO ENVIADO ESPECIAL A LARANJAL DO JARI

A tarefa mais difícil do prefeito Antonio de Jesus Santos Cruz (PFL), 58, é provar, sem estatísticas, que a fama de cidade violenta e cheia de prostitutas é injusta para Laranjal do Jari.
Com a queda da atividade garimpeira na região e o reforço policial, a violência e a prostituição diminuíram, diz.
Em seu gabinete modesto e sem energia -cortada diariamente das 6h às 11h por economia do governo do Estado-, ele conta que o antigo "Beiradão" está mudando. Mas não muito.
Laranjal se converteu em cidade em 1988, quando a Jari Celulose doou ao Amapá uma área 2 km acima da margem do rio.
Até então, aquilo era um amontoado de palafitas na margem oposta à de Monte Dourado. Lá, a 36 horas de barco de Belém (PA), se estabeleceram os que foram tentar a sorte no Jari, mas que não podiam se instalar em Monte Dourado por causa do controle da empresa.
Acostumada ao padrão caboclo de viver à beira do rio, a população não se convenceu inteiramente de que tinha de mudar para a área seca.
São 6 km de palafitas à margem do Jari e outros tantos nas vielas e passarelas erguidas sobre a várzea rio. Metade dos 35 mil habitantes vive nessas condições. Por baixo, o lixo flutua.
Barcos com motor de popa conhecidos como "catraias" atravessam os 250 metros de água escura que separam as duas cidades dia e noite. Cada passageiro paga R$ 0,20.
Na via principal do Beiradão, uma espécie de "deck", centenas de palafitas de dois andares cumprem dupla função: casa (em cima) e comércio (embaixo).
Ali estão, expostos ao sol, carne bovina, peixes, roupas, frutas e máquinas de lavar roupa.
Enquanto Monte Dourado -que nem município é, e sim distrito de Almeirim- dispõe de saneamento, escola e saúde para todos, a prefeitura de Laranjal tenta se equilibrar com R$ 2,8 milhões para pagar o funcionalismo, manter 41 escolas e levar água e esgoto a 40% da população. Lá, Primeiro Mundo é nome de supermercado.
(EB)

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