São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Administrador aposta na reestruturação de empresas

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A tarefa profissional que mais entusiasma o empresário Luiz Francisco Novelli Viana é uma atividade que poucos homens de negócios têm a chance de exercer. Ele dedica boa parte dos seus dias à procura de empresas que estejam em dificuldades.
Depois, tenta montar uma operação financeira para viabilizar sua compra e prepara sua reestruturação para tornar a companhia competitiva e rentável. A etapa final é encontrar um novo comprador para a empresa recuperada. Ele não quer ser dono dessas empresas, mas sim ganhar com o processo de sua recuperação.
Viana vem atuando desde o início da década dessa forma, como uma espécie de "caçador" de companhias problemáticas. Normalmente, essa atividade é exercida pelas chamadas empresas de participação, que tendem a crescer, em número e em volume de operações, com a chamada globalização da economia.
Ele começou a atuar na reestruturação de empresas como uma das áreas de operações do grupo MVA, criado em 1989. Mas, desde julho do ano passado achou um novo espaço para esse trabalho.
Em julho, Viana tornou-se sócio de Luiz César Fernandes, dono do Banco Pactual, em uma empresa de participações, a West Hem Industrial, que em dezembro passou a se chamar Latinpart. Viana preside a empresa.
Hoje, estão na carteira da Latinpart participações em empresas como a Teba (85%), do setor têxtil, a CTM Citrus (54%), de suco de laranja, e a locadora de automóveis Hertz (13%).
O faturamento esperado desse grupo de companhias em 1996 é de aproximadamente R$ 165 milhões. Cerca de 1.100 pessoas são empregadas pelas três empresas.
Um exemplo do trabalho de reestruturação é o que está ocorrendo com a Teba, a Indústrias Têxteis Barbero, de Sorocaba (cerca de 100 km de São Paulo).
Fabricante de linho, a Teba está recebendo investimentos em máquinas e equipamentos, sua administração foi modernizada e deve passar a ter lucros ainda este ano.
Por isso, já se procura uma alternativa definitiva para seu controle, que poderá ser, por exemplo, encontrar um parceiro internacional. Recentemente, seguindo essa mesma orientação, a Latinpart vendeu para a família Benetton os 50% que detinha da empresa no Brasil.
A Latinpart ainda não dá lucros, reconhece Viana. É da natureza desse tipo de companhia que os lucros demorem porque são longos os prazos entre o investimento na compra e modernização da empresa que foi comprada e sua venda.
Viana já exercia esse tipo de atividade de compra de participações em empresas na MVA, o grupo de empresas do qual controla 100% do capital junto com a esposa, uma das herdeiras do grupo Hermes Macedo, do setor de varejo, que enfrentou sérios problemas no início desta década, chegando, inclusive, a pedir concordata.
Herança política
Foi trabalhando na Hermes Macedo que ele começou a se interessar por novos nichos de mercado a serem explorados. Ele aposta, por exemplo, que será muito lucrativo investir na distribuição de produtos populares em bairros afastados dos centros comerciais das grandes cidades.
Formado em Administração de Empresas pela Fundação getúlio Vargas e pós-graduado em Harvard (EUA), Viana morou alguns anos nos Estados Unidos, trabalhando no First Chicago e na Johnson & Johnson's.
Depois do casamento com uma das filhas do empresário paranaense Hermes Macedo, Viana passou a trabalhar no grupo, do qual saiu em 1989, levando consigo a parte da herança que cabia à sua esposa. Esse patrimônio foi a base para a criação do grupo MVA.
Nessa época, o patrimônio líquido da MVA era de US$ 20 milhões a US$ 25 milhões. Hoje, é o dobro disso, o que fez com que o grupo fosse incluído na listagem dos 300 maiores grupos privados nacionais no ano passado, segundo a revista Balanço Anual.
Além de atuar na área de reestruturação de empresas, o grupo MVA controla empresas no setor imobiliário e de prestação de serviços na área financeira, como a gestão de estoques e de crédito de outras empresas.
Viana diz que não tem receitas sobre como ser um bom administrador. Ele acha importante que, na análise da certa situação, o caso seja colocado no seu contexto, no seu cenário mais amplo.
Assim, em determinados setores, como o de embalagens, existe uma grande empresa e uma série de pequenas companhias, a maioria com dificuldades. São problemas de gestão familiar ou de atraso tecnológico ou ainda provocados por erros de avaliação do mercado e da política econômica.
Valeria a pena, apesar dessas dificuldades, investir e comprar uma dessas pequenas empresas para modernizá-la e fazer com que ela passe a ser uma alternativa de fornecimento para os clientes do setor, afirma Viana.
Escaldado pelos problemas que enfrentou quando saiu do grupo Hermes Macedo, Viana tem opiniões claras sobre o que quer para os três filhos, com idades entre 12 e 18 anos. "Quero que eles tenham confiança neles mesmos. Que aprendam que o sucesso é fazer o que acham que é importante, seja ganhar dinheiro ou não."

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