São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dekasseguis enviam US$ 2 bi para o Brasil

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dekasseguis, brasileiros descendentes de japoneses que trabalham no Japão, remeteram ao Brasil, no ano passado, uma quantia perto de US$ 2 bilhões.
É um volume expressivo. Financiou quase dois terços do déficit no comércio externo, que foi de US$ 3,1 bilhões.
A maior parte das remessas (US$ 850 milhões) foi feita por meio do BB (Banco do Brasil), que tem duas agências no Japão, nas cidades de Tóquio e Hamamatsu. Em março, o BB vai abrir a terceira agência, em Nagoya.
Até o Correio japonês, por exemplo, oferece serviços de remessa em anúncios publicados nos jornais, escritos em português, que circulam entre os dekasseguis. O Banco América do Sul, ligado à comunidade japonesa no Brasil, também é ativo nesse mercado.
O movimento de remessas começou a crescer a partir de 92, quando o governo japonês tornou legal o trabalho dos dekasseguis. Naquele ano, eles remeteram US$ 110 milhões.
Desde então o movimento praticamente dobra todo ano. Desde 94, o BC registra o peso dessas remessas no financiamento de parte das contas externas.
A emigração brasileira para o Japão tem crescido sistematicamente. Calcula-se que hoje trabalhem lá 180 mil dekasseguis.
Segundo pesquisas do BB, eles ganham, em média, US$ 3 mil por mês e, provavelmente, economizam US$ 2 mil.
Muitos trazem dinheiro vivo na volta ao Brasil. Por isso, a delegacia de polícia do aeroporto de Cumbica, em São Paulo, sempre reforça o policiamento nos manhãs de chegada de vôos do Japão.
Na alegria do reencontro dos parentes, muitos descuidam de suas bagagens. Já houve caso de roubo de US$ 45 mil.
Títulos
BC e BB consideram que as remessas não apenas serão mantidas, como poderão crescer nos próximos anos. Há estimativas de que cheguem a US$ 3 bilhões já em 1996.
Há tanta segurança nisso que o BB está se preparando para lançar títulos no mercado internacional no valor de US$ 300 milhões, lastreados (garantidos) nas remessas dos dekasseguis.
Ou seja, o BB vai vender os papéis, receber o dinheiro adiantado e dar em garantia as remessas dos brasileiros do Japão.
O Brasil também recebe remessas dos brasileiros que trabalham nos EUA. Mas o cálculo aqui é mais difícil, pois as remessas são feitas por casas de câmbio.
Há casas de câmbio em Chicago, por exemplo, que são especialistas em enviar dinheiro para Governador Valadares, em Minas.
Os dekasseguis, mais desconfiados, preferem enviar seus dólares por vias oficiais.

Texto Anterior: Administrador aposta na reestruturação de empresas
Próximo Texto: Imigração começou em 1908
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.