São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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O acordo de cavalheiros

SÍLVIO LANCELLOTTI

Prevaleceu o bom senso. Ainda que informalmente, por um acordo de cavalheiros entre presidentes de clubes e federação, a Itália não vai obedecer à jurisprudência da Corte de Luxemburgo, que detonou, três meses atrás, as principais fronteiras futebolísticas da Europa.
Rememorando: ao julgar o chamado caso Bosman, um jogador menor, que desejava trocar de país, mas tinha contrato preso a seu time anterior, a Corte ignorou as peculiaridades do futebol e a secularidade de suas estruturas.
Liberou Bosman, mas não considerou singular seu problema. Abriu um precedente ao assegurar o "livre trânsito" de futebolistas de qualquer espécie entre as 15 nações da União Européia.
Por exemplo, nivelou os mercados da poderosa Alemanha e do Luxemburgo. Basta um bilionário do Luxemburgo contratar os 11 maiores craques da União Européia e a pequenina nação terá o melhor elenco do planeta.
Pior, havendo dinheiro, o Campeonato da Finlândia poderá ser disputado com um time de ingleses, outro de holandeses -e nenhum de jogadores de sua pátria.
Como solucionar a questão? Ao analisar os estatutos de constituição da União Européia, o ponderadíssimo Mario Pescante, presidente do Comitê Olímpico Italiano (Coni), compreendeu o óbvio.
Livre trânsito significa fronteiras abertas sem obrigatoriedade do visto de entrada e do passaporte.
Significa, também, oportunidades equivalentes de trabalho, tudo bem.
Não significa, porém, que um clube tenha de contratar um atleta sem querê-lo. Não significa que um clube precise, obrigatoriamente, possuir em seu quadro mais jogadores não-nativos do que um número mínimo e razoável. Daí o acordo de cavalheiros na Bota. Os times da Itália se comprometeram a não colocar em campo mais do que os três estrangeiros de praxe.
O Coni e a Federação da Bota vão encaminhar ao Parlamento da União Européia, também, uma proposição de emenda, individualizando o futebol nos estatutos da comunidade. Lembra Pescante que tais estatutos já prevêem condições específicas para mercados de trabalho nas artes e na cultura.
Em Genebra, na Suíça, de 7 a 9 de fevereiro, as idéias dos peninsulares serão formalizadas numa reunião de todas as 50 federações da Uefa. "Não duvido que todas apoiarão a nossa tese", confia Pescante. "Com a pressão de uma Uefa unida, sem dúvida, o problema do precedente desaparecerá."

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