São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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A precisão na fala e na prosa

MODESTO CARONE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O que mais chamava a atenção em João Luiz Machado Lafetá era a elegância como disposição de espírito e de personalidade. Ela se manifestava em pormenores que iam desde a maneira metódica de dobrar o punho da camisa até o timbre da voz, que tinha a altura certa. Aliás, o senso da medida em Lafetá mostrava que ele não estava nem um pouco empenhado em se impor às pessoas, embora fosse raro que suas atitudes e opiniões passassem despercebidas, dada a consistência com que se objetivavam. Sabia também ouvir mais do que falar e se tinha alguma coisa a dizer ele o fazia com precisão, o que muitas vezes dava à sua fala o ar de coisa pronta para ser impressa. Tudo isso parecia vir à tona com algum esforço de concentração, que, no entanto, não comprometia o interesse pelo interlocutor que nele era real.
Acredito que esses traços de distinção acompanharam o seu trabalho de crítico e escritor. Nesse sentido basta ver o critério com que usou instrumentos complexos como a teoria social e a psicanálise para afinar uma leitura muito pessoal da ficção de Graciliano Ramos ou da poesia de Mário de Andrade. Mas não só isso como também os recursos de estilo que tornaram sua prosa um exemplo de equilíbrio e maleabilidade.
A avaliação dos seus ensaios literários -todos eles marcados pelo "claro raio ordenador" do "espírito de Minas" descrito por Carlos Drummond de Andrade- evidentemente ainda está por ser feita; mas o silêncio que pesa sobre um livro de qualidade como "Figuração da Intimidade" é um desleixo cultural injustificável que precisa ser reparado logo.

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