São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Mulheres seduzem restaurantes paulistanos

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os solitários de plantão podem dormir sossegados. Já não é um problema almoçar ou jantar com a Maria, a Vanda, a Cecília ou a Carlota. Mais que novidade, batizar restaurante com nome de mulher já virou moda na cidade de São Paulo.
Mitológicas ou de carne e osso, elas dominam não apenas os salões e cozinhas de seus estabelecimentos, como também suas fachadas, dando nome aos estabelecimentos.
Mas quem estaria por trás desses nomes femininos? Quem seriam essas musas secretas, agora tornadas públicas.
Desde o nascimento, a mãe é a primeira referência na vida de qualquer pessoa. Partindo desse pressuposto, não é de estranhar que seja ela a mais homenageada.
O dono do restaurante Filomena, Roberto Suplicy, é um exemplo desta nova declaração de amor filial. Deu esse nome ao restaurante por causa de sua mãe, Filomena Suplicy.
"A Filomena nunca gostou muito de seu nome. Nunca quis que nenhuma neta ou bisneta chamasse Filomena. A maneira de homenageá-la foi dar seu nome ao restaurante", conta Vera Suplicy, 50, mulher de Roberto.
No início, Filomena também não gostou muito da idéia. Hoje, já está acostumada. "Ela sempre vem aqui, adora a homenagem", diz Vera.
Os 11 irmãos que são donos do restaurante de comida mineira Dona Lucinha também resolveram homenagear a mãe, Lúcia, quando fundaram o restaurante, que também funciona em Belo Horizonte.
"Ela cuida da nossa fazenda em Minas Gerais, de onde vêm muitos dos produtos que são usados em nosso restaurante. Ela é a base de nossos negócios, o nome só poderia ser o dela", diz Elza Nunes, 34, uma das filhas.
A Brasserrie Victória, que existe desde 1947, também tem o nome da matriarca da família proprietária da casa. "O restaurante foi fundado e administrado por ela muitos anos", diz Paulo Cézar Azaar, 35, neto de Victória e sócio do restaurante. A fundadora do restaurante morreu em 91.
Alguns restaurantes ganham o nome de seus proprietários. É o caso do judaico Cecília, fundado há 13 anos.
"Eu já cozinhava para fora antes e as pessoas sempre diziam: 'compra na casa da Cecília'. Por isso meus amigos insistiram para que o restaurante tivesse o meu nome", explica Cecília Judkowitch, 54.
Ela conta que no início achou a idéia muito estranha. "Hoje sinto uma sensação maravilhosa. Tenho muito orgulho do meu trabalho", diz Cecília.
A solução encontrada por Carla Pernambuco, 36, para batizar o seu restaurante, recentemente aberto na cidade, foi dar a ele o seu apelido: Carlota.
"Gostei desse nome porque ficou bem humorado, não é austero. E todo mundo me chama pelo apelido", diz Carla.
Ela tem ainda uma outra razão para adorar seu apelido: "Acho que Carlota é legal porque combina com todas as idades. Vai ser legal quando eu for uma velhinha chamada Carlota", diz.
O restaurante de comida italiana Maria Zanchi de Zan também tem o nome de sua proprietária.
"Foi um amigo meu que deu o nome, eu preferia o nome de meu marido, Carlone. Achava que, por ser muito grande, meu nome não ia pegar. Acabou dando certo", diz Maria, 56.
Algumas homenageadas são musas misteriosas. É o casa da Olívia, que deu o nome ao bar na Vila Madalena.
"Quando o restaurante abriu, pertencia a sete sócios homens. Eles achavam que tinha que ser um nome de mulher. Mas não sei quem era essa Olívia", diz Cláudio Gato, 24, atual dono do bar.
Ele tem alguns palpites sobre quem poderia ser a tal Olívia: "talvez fosse uma paixão platônica de um deles ou mesmo uma namorada dos sete", arrisca.

CARLOTA: r. Sergipe, 753, tel. 255-8670, Higienópolis; FILOMENA: r. Sergipe, 753, tel. 258-8670, Higienópolis; BRASSERIE VICTÓRIA: av. Juscelino Kubitschek, 545, tel. 820-8897, Itaim; DONA LUCINHA: av. Chibarás, 399, tel. 549-2050, Moema, e r. Bela Cintra, 2.325, tel. 282-3797, Jardins; MARIA ZANCHI DE ZAN: r. Jerônimo da Veiga, 163, tel. 280-8508, Itaim; OLÍVIA: r. Aspicuelta, 650, tel. 813-7899, Vila Madalena; HELENA: r. Doutor Mauro Ferraz, 423, tel. 829-2238, Itaim; MARIKO: r. Augusta, 1.508, tel. 253-6622, Cerqueira César; MARIA: r. Aspicuelta, 217, tel. 211-4711, Vila Madalena; AÍDA: r. Mourato Coelho, 1.082, tel. 814-4975, Vila Madalena

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