São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Renúncia de militares amplia crise política

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente colombiano Ernesto Samper enfrentou no final da noite de anteontem (madrugada de ontem no Brasil) a primeira fissura no alto comando militar na crise em que é acusado de ter sido apoiado por narcotraficantes em sua campanha eleitoral.
O general Ricardo Emilio Cifuentes, comandante da Segunda Divisão do Exército, renunciou à posição. "Pedi minha reforma do serviço ativo do Exército nacional porque o presidente da República não merece meu respaldo", disse o general.
O presidente Samper prorrogou por mais 90 dias o estado de "comoção interna" em que se encontra o país desde o novembro passado, quando foi assassinado o líder e ex-candidato presidencial conservador Alvaro Gómez Hurtado.
Samper insiste que uma consulta popular na forma de plebiscito decida se ele deve manter o poder.
Na semana passada, o ex-ministro da Defesa Fernando Botero Zea acirrou a crise ao afirmar que o presidente tinha conhecimento do financiamento de narcotraficantes a sua campanha eleitoral.
As primeiras denúncias foram feitas no ano passado por Santiago Medina, que foi tesoureiro de campanha de Samper. Anteontem Medina confirmou as denúncias de Botero à TV CNN.
Medina, que está em prisão domiciliar, também envolveu o ministro do Interior, Horacio Serpa, e o chanceler Rodrigo Pardo em suas acusações.
Mas ele inocentou o vice-presidente Humberto de la Calle de qualquer envolvimento com o financiamento ilícito da campanha.
O plebiscito defendido pelo presidente enfrenta oposição dentro do governo e de representantes da sociedade, como o escritor Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura de 1982.
O ministro da Defesa, Juan Carlos Esguerra, também se manifestou contra o plebiscito.
Esguerra lamentou ontem a renúncia de Cifuentes e disse que o general tinha grande prestígio nas Forças Armadas. Aos 35 anos de carreira, Cifuentes comandava o Exército em regiões do país onde há forte presença guerrilheira.
O general provocou uma reunião especial do alto comando das Forças Armadas, que teria feito pressão contrária à renúncia, informou a agência "France Presse".
O presidente Samper convocou o Congresso para sessões extraordinárias a partir da próxima terça-feira, com intenção de tirar o país da crise política. Ele informou que pretende responder no Congresso a todas as acusações.

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