São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Brasil pode ter apoio na ONU, afirma Peru

LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Peru poderá apoiar a reivindicação do Brasil por uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
É a expectativa do Itamaraty para a visita que o presidente peruano, Alberto Fujimori, fará ao Brasil entre 24 e 28 de fevereiro.
A Folha apurou que o Itamaraty dá como praticamente certo o apoio do governo peruano na questão. A diplomacia brasileira aposta numa mudança da política externa do Peru, que tenta uma aproximação maior com o Brasil.
Até 1995, a Argentina era o principal aliado do Peru no Cone Sul. A venda de armas argentinas ao Equador teria gerado ressentimento entre os peruanos. Ela ocorreu durante a guerra entre Peru e Equador no início do ano passado.
O embaixador do Peru em Brasília, Alejandro Gordillo, 53, disse que o governo de Fernando Henrique Cardoso está realizando ações em nível mundial que capacitam o Brasil a ser membro do Conselho. O embaixador não confirmou o apoio do seu país ao pleito brasileiro junto à ONU.
O governo peruano também está interessado em facilitar o transporte entre os dois países, intensificar o comércio bilateral e proporcionar o acesso do Brasil ao Pacífico.
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Folha - Como o Brasil poderá ter acesso ao Pacífico?
Alejandro Gordillo - O melhor trajeto é o que dá continuidade à BR-364, em Assis Brasil (AC), cruza a fronteira e vai por terra até os portos de Ilo e Matarani, no Peru. Por essa ligação boa parte da exportação brasileira poderia chegar aos países andinos, à Costa Oeste dos EUA e Ásia.
Folha - Que vantagens o Brasil teria em usar esses portos?
Gordillo - Para o Norte e Centro-Oeste do Brasil, eles estão mais próximos do que do porto de Santos (SP). De Rio Branco (AC) a Santos são 3.600 km, enquanto de Rio Branco a Matarani, no Peru, são 1.500 km. Os serviços de Ilo serão privatizados e estamos dispostos a ampliar sua capacidade conforme a necessidade.
Folha - Como poderá ser intensificado o comércio entre os dois países?
Gordillo - O Brasil é o sócio latino-americano mais importante para o Peru do ponto de vista comercial. O comércio bilateral é de cerca de US$ 500 milhões ao ano, mas isso pode crescer, se o transporte for melhorado. Antes de mais nada, é preciso aumentar o número de vôos, que são apenas seis semanais.
Folha - Qual a opinião do Peru sobre o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia)?
Gordillo - O projeto pode ser bom porque possibilitará o acesso a informações que só podem ser obtidas por um moderno sistema de monitoramento.
O Sivam também oferece a chance de um maior controle do narcotráfico. O Brasil quer que os países fronteiriços cooperem com a implantação do Sivam. Todos esses países devem compartilhar da rede técnica de dados sobre a Amazônia. Qual o projeto a ser implantado é uma questão interna.
Folha - O processo de democratização brasileiro culminou com o afastamento do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
No Peru, ao contrário, houve fechamento do regime. Essa diferença distancia os dois países?
Gordillo - O Peru vivia uma situação muito especial, que exigia medidas de exceção. Depois de 1992, quando o Congresso foi fechado, tivemos cinco eleições: uma para o Congresso constituinte, duas municipais, uma presidencial e uma consulta popular para aprovação da Constituição.
Isso foi compreendido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde que o novo governo assumiu, se iniciou uma reaproximação. Estamos aplicando programas econômicos muito parecidos, com total abertura à economia. O Peru vive uma plena democracia.
Folha - O Peru poderá apoiar a reivindicação do Brasil por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU?
Gordillo - Quando a oportunidade surgir concretamente -antes é preciso mudar as regras da ONU-, o Peru estudará qual país merecerá seu voto. Ser membro permanente do Conselho exige uma presença em nível planetário, não apenas supra-regional ou regional. O Brasil demonstra ter capacidade para fazer isso.

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