São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Israel se move entre sinais de guerra e paz

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

Anúncio publicado com regularidade pelo "The Jerusalem Post", o diário em inglês de Israel, mostra como são grandes as expectativas de negócios entre israelenses e seus vizinhos, ex-inimigos ou quase ex-inimigos.
É o anúncio que promove o "Arab Fax Directory", livreto com dados das principais firmas árabes em 20 países da região.
Em todo o caso, até que o "diretório" de firmas árabes seja de real utilidade para empresários israelenses, outros endereços são olhados com maior curiosidade.
Exemplo: o endereço de líderes palestinos que Israel considera "arquiterroristas", como George Habash, presidente da Frente Popular pela Libertação da Palestina.
O premiê Shimon Peres, semana passada, disse que autorizaria a volta de todos, entre eles Habash, para que pudessem votar na reunião do Conselho Nacional Palestino, único órgão que pode mudar a Carta palestina nos trechos que pedem a destruição de Israel.
A oposição protestou com veemência. Peres retrucou: é melhor ter Habash (entre outros) nos territórios palestinos do que na Síria, sua residência habitual, porque fica mais fácil vigiar seus passos.
Outro grupo cujo endereço é preocupação permanente para Israel é o Hizbollah (Partido de Deus), encravado no Líbano, de onde faz ataques a Israel.
O Hizbollah tem vínculos com o Irã dos aiatolás e também com a Síria. Israel gostaria que o governo sírio, que controla o Líbano, pusesse o grupo fora de combate.
Hoje, deixou de ser uma impossibilidade. Há informações de que a Síria apertou o cerco ao Hizbollah a tal ponto que chegou a criar atritos com o governo iraniano.
Mas há também sinais contraditórios, emitidos por autoridades libanesas, virtuais reféns dos sírios.
No dia 16, um juiz militar libanês ordenou a prisão de Antoine Lahd, comandante do Exército do Sul do Líbano, força militar a serviço de Israel.
Lahd é acusado de recrutar soldados para um "Exército hostil, carregar armas do lado israelense e ajudar Israel a separar parte do território libanês com violência".
Peres reagiu: "É um insulto a um comandante do Exército libanês e um grande patriota libanês".
Quando um país vê um determinado cidadão como membro de um "Exército hostil" e seu vizinho prefere enxergá-lo como "um grande patriota", fica fácil deduzir-se que a paz ainda é só uma expectativa no horizonte, por mais bons negócios que possa gerar.
Uma prova de que os negócios são uma alavanca formidável para a paz, entretanto, é dada pelos acordos que Israel e a Jordânia já assinaram. Os dois países ficaram tecnicamente em estado de guerra durante 46 anos, até que, em 1994, assinaram a paz.
Exemplo: no dia 16 passado, assinaram acordo pelo qual se torna possível viajar diretamente de Israel à Jordânia, pelos pontos de passagem existentes, a um custo de 100 a 150 sheckels (moeda israelense), o que equivale a uns US$ 32,25 ou US$ 48,38.
Planejam até lojas "free shop" (livres de impostos, como nos aeroportos) dos dois lados da fronteira, além de uma nova ponte permanente sobre o rio Jordão, perto da ponte Shiekh Hussein.
Dois dias depois, outros acordos, sempre com os negócios como pano de fundo. Um deles cria a moldura adequada para transformar a região Ácaba/Eilat em um distrito único para cooperação em turismo, indústria, comércio, meio ambiente e infra-estrutura.
Ácaba, do lado jordaniano, fica em frente a Eilat, em Israel, separadas apenas pelo Golfo de Ácaba.
Um estudo do instituto norte-americano Carnegie Endowment for Peace antevê uma ZLC (Zona de Livre Comércio) entre Israel e seus quatro vizinhos árabes, mais um futuro Estado palestino.
ZLCs são a mais recente moda no comércio internacional. É significativo que haja quem imagine que, no Oriente Médio, se possa passar quase diretamente da guerra a esse estágio.

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