São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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O desafio da esfinge

Quem testemunhou a irrefreável expansão dos romanos até a Ásia provavelmente jamais preveria, no triunfo de Júlio César em 41 a.C., que cinco séculos depois as hordas de bárbaros acabariam com aquele império aparentemente imbatível. Quem presenciou o poderio da Igreja Católica durante a Idade Média não imaginaria que sete séculos depois o Vaticano estaria se preocupando com a expansão de seitas.
Longe de prever, catastroficamente, que será preciso esperar alguns séculos até que o problema do desemprego seja resolvido, o fato é que muitos dos contemporâneos que se preocupam com essa distorção, ao constatarem a irreversível abertura de mercados e o impacto das novas tecnologias na absorção da mão-de-obra, devem experimentar também uma forte impressão de que estão diante de uma situação irreversível.
As considerações do presidente sobre a questão, feitas na Índia, refletem um pouco dessa perplexidade. FHC sugere que o Estado poderia ser um indutor de emprego, incentivando a captação de mão-de-obra por micro e pequenas indústrias, obras públicas e construção civil, mas não indica de quais recursos pode dispor um governo com déficit no Orçamento, onerosa dívida interna e uma sobrecarregada folha de pagamentos do funcionalismo. Embora saiba que apenas um exponencial crescimento econômico poderia gerar mais empregos, o presidente não ignora que a expansão produtiva no país prevista para os próximos anos certamente não absorverá o contingente de desempregados.
A escalada do desemprego é mundial. FHC sabe que o estoque de credibilidade de seu governo, gerado pela estabilização, é esgotável. Enfrenta, pois, o desafio da esfinge: "Decifra-me ou te devoro".

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