São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 1996
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Palavras e estratégia

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Apenas FHC poderá resolver a celeuma em torno da participação de ministros na campanha eleitoral deste ano. O presidente, aparentemente de forma proposital, tem deixado pairar algumas dúvidas a respeito.
Na Índia, FHC não explicou exatamente o que entende por participação "moderada" dos ministros nas campanhas dos candidatos a prefeito.
Vale a pena ler novamente a frase do presidente em Bombaim:
"Eu não vou participar da campanha. O governo federal não vai se envolver. Mas os ministros podem, desde que isso seja de forma moderada e sem envolver o governo, sem usar a máquina administrativa. Isso eu não vou permitir."
O professor Fernando Henrique parece propor duas coisas contraditórias entre si. Ou, então, estaria atribuindo sentidos ignorados às suas palavras.
Sim, porque é difícil imaginar o governo não se envolvendo na eleição de prefeitos enquanto seus ministros estiverem sobre palanques pelo país.
É claro que FHC sabe o que disse. Sabe que não foi explícito. Evitou descrever o tipo exato de comportamento que espera de seus ministros.
Dependente de sete partidos no Congresso, FHC apenas tateia o terreno. Com sua declaração ambivalente, conseguiu o que desejava. Todos já imaginam que os ministros foram liberados. Com isso, os descontentes gritam.
Quando estiver de volta ao Brasil, o presidente vai fazer as contas. Analisará o tamanho do estrago em sua aliança no Congresso.
A reação dos partidos aliados já começou -notadamente do PMDB, o que mais teme uma derrota eleitoral.
Se o PMDB ameaçar de fato a aliança no Congresso, a ponto de colocar em risco a aprovação de reformas, o presidente poderá calmamente definir que a participação "moderada" de seus ministros significa, entre outras coisas, não subir em palanques.
Para azar do presidente, a discussão sobre o engajamento do governo nas eleições começou muito cedo. O ideal, para FHC, seria discutir o assunto depois de votadas as reformas.
A julgar pelas pressões do PMDB, o presidente terá pouco tempo para explicar o que disse na Índia.
A não ser que prefira apostar mais na eleição de prefeitos -e abandone a ênfase nas reformas da Constituição.

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