São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
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CUT faz exigências e dificulta acordo

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A corrente Articulação Sindical, hegemônica na Central Única dos Trabalhadores (CUT), decidiu em reunião no sábado em São Paulo fazer exigências que dificultam a adesão ao acordo sobre a reforma na Previdência Social.
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT e membro da Articulação Sindical, afirmou que o ponto preliminar é que a comissão especial da Câmara que analisa a reforma previdenciária não vote nada amanhã, como está previsto.
"Se acontecer qualquer votação, o processo de negociação será atropelado", acha Vicentinho.
Além disso, a CUT quer incluir no acordo pelo menos três pontos até agora não são aceitos pelo governo: manutenção da aposentadoria proporcional, não-estabelecimento de limite de idade para aposentadoria do funcionalismo público e permanência da aposentadoria especial para professores universitários.
"Esses assuntos não podem ser resolvidos com pressa", afirmou o presidente da CUT. Vicentinho vai insistir hoje para que o governo dê pelo menos mais um mês de prazo para as negociações.
Além disso, a CUT vai sugerir uma redação que deixe claro que, na prática, a substituição do critério de tempo de serviço por tempo de contribuição para obtenção da aposentadoria não cause eventuais prejuízos aos trabalhadores do setor informal.
Para Vicentinho, o ponto acima precisa ser "esclarecido", o que em seu entender só será possível com uma nova redação para substituir o protocolo negociado anteriormente entre as centrais sindicais e o governo.
A Articulação Sindical é a mais moderada das tendências cutistas. As outras correntes e o PT estão pressionando Vicentinho para adotar uma posição mais dura na negociação com o governo, o que já foi sinalizado pela resultado da reunião de sábado.
A esperança da ala de Vicentinho é que o governo ceda ao menos em um dos pontos reivindicados pela central. Se isso ocorrer, o raciocínio é que será possível ao presidente da CUT aprovar o acordo sem um grande trauma interno.
Caso as lideranças governistas mantenham o início das votações na comissão especial para amanhã e, ainda, não aceitem nenhuma das exigências da CUT, avalia-se no grupo de Vicentinho que o sindicalista terá a "saída honrosa" para criticar qualquer solução para o imbróglio Previdência.
Aí, o discurso adotará o tom de que "faltou vontade e sobrou pressa ao governo para discutir um assunto que afeta a vida de milhões de pessoas".
Oficialmente, Vicentinho continua com a retórica da negociação. "Nós podemos usar a Previdência como uma avenida para negociar temas como desemprego e reforma agrária", declarou o sindicalista.

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