São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
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Harold Brodkey foi romancista do rigor

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para grande parte dos leitores americanos, o escritor e ensaísta Harold Brodkey, morto na última sexta-feira em consequência da Aids, foi durante anos um quase desconhecido.
Apesar de ser visto por setores da crítica literária de seu país como um talento, exemplificado em Harold Bloom, que o qualificou de o "Marcel Proust americano", seu nome e carreira se associaram de forma definitiva à sua doença.
Em artigo publicado no semanário "The New Yorker" em junho de 1993, Brodkey avisava em um artigo, intitulado "Para os Meus Leitores", que havia contraído o vírus HIV e mostrava todo o espanto causado por sua necessidade em aceitar o fato. A estranha maneira que Brodkey encontrou para chegar à notoriedade.
Nascido como Aaron Roy Weintraub em Illinois, no Meio Oeste americano, Brodkey perdeu sua mãe quando tinha apenas 17 meses. Em seguida foi adotado, aos dois anos, pela família que lhe deu seu nome. Quando completou oito anos sua mãe adotiva contraiu câncer, o que o elevou a ter seguidas crises nervosas na infância.
Esse desejo de capturar o passado afetivo na memória, presente em toda a sua obra, foi o que o levou a ser comparado a Proust.
Escritor de poucos livros, seu primeiro trabalho foi publicado em 1958: "First Love and Other Stories", que conseguiu a atenção da crítica. Mas não do público.
Seus contos -que tratavam invariavelmente da angústia gerada pelo amor- mostravam uma prosa rigorosa, sem qualquer tipo de excesso, onde a discrição imperava como um mandamento.
Em 1961 Brodkey mergulharia em projeto que consumiria a maior parte de sua vida: "Party of Animals", um romance que tentaria retratar o mundanismo dos EUA.
Trinta anos depois é publicado "The Runnay Soul", seu primeiro romance. Brodkey havia abandonado as pretensões de "Party" para colocar, mais uma vez, sua memória em primeiro plano.
Em 1994 publica seu segundo romance, "Profane Friedship" sobre o relacionamento amorosos entre dois homens em Veneza.
Alguns meses antes, Brodkey retornava às paginas da "New Yorker" para mais um relato sobre a doença, onde falava de seu casamento e de suas experiências homossexuais.
O artigo foi publicado pela Folha em 13 de novembro do mesmo ano no caderno Mais!. A primeira vez que sua prosa encontrava, em um violento discurso sobre a morte e a lembrança, o leitor brasileiro.

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