São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 1996
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Goebel reconstrói o conceito de barroco

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Reinhard Goebel, 43, e Anne- Sophie Mutter, 35, têm em comum o fato de serem violinistas alemães e estarem no catálogo das últimas importações clássicas da Polygram. Mas as semelhanças não vão muito mais adiante.
Cada um, a seu modo, traz um CD exemplar para tipos bem diferentes de colecionador.
Goebel tornou-se um musicólogo de reputado rigor e o conjunto que criou em 1973, o Musica Antiqua de Colônia, vem efetuado uma releitura extremamente original do barroco, com base em partituras restauradas e instrumentos originais com a afinação de época.
Mutter, a linda Mutter, é a garota prodígio que aos 13 anos recebeu de Herbert Von Karajan o convite para ser uma das solistas da Filarmônica de Berlim e que, desde então, utiliza um de seus dois Stradivarius (um de 1703 e o outro de 1710) para dar vazão a um repertório romântico (Brahms, Beethoven) ou então do século 20 (Stravinski, Bartok, Alban Berg).
Vejamos em detalhes as duas gravações disponíveis.
O Musica Antiqua de Colônia se apresenta com o selo Archiv, originariamente uma divisão da Deutsche Grammophon que se especializou em lançamentos de peças inéditas. A ele se deve, por exemplo, a primeira versão de algumas das cantatas de Bach.
As duas outras partituras -um septeto de Georg Philipp Telemann (1681-1767) e o balé "Alessandro", de Christoph Willibald Gluck (1714-1787)- ou são inéditas ou de há muito não constavam nos catálogos norte-americanos e europeus.
Uma das formas de se apreciar o rigor técnico de Goebel está na maneira com que ele concebe a dinâmica, que é o contraste entre os sons mais fortes e os mais fracos.
Vale a pena comparar, em cada um dos compositores que escolheu, três movimentos em minueto, que são um ritmo de execução mais delicada porque há uma mínima distância entre a dinâmica do virtuosismo e da vulgaridade.
Atentem também, em Telemann, para as duas oboístas, Susanne Regel e Monika Nielsen. Há um encontro raro de vivacidade no fraseado, de perfeição rítmica e de justeza dos ornamentos.
Goebel, definitivamente, tem os atributos necessários para permanecer no mesmo pedestal em que já se encontram outros musicólogos como Jrgens, Leppard, Pinnock ou Hogwood, junto a quem os apreciadores da boa música têm como dívida a redescoberta da música barroca.
O CD com Anne-Sophie Mutter destina-se ao melômano iniciante. As oito peças que reúne são em grande parte movimentos -os de maior lentidão- de concertos para violino e orquestra que fariam plenamente sentido apenas se executados em sua versão integral.
Mas a vantagem da execução virtuosa de uma peça lenta para violino está na impossibilidade de se incorrer na confusão de virtuosismo com pirotecnia das semifusas (as notas mais rápidas).
São adagios, andantes e berceuses, que se poderia qualificar de "músicas para namorar". Mas namorar com qualidade, já que os compositores se chamam Mendelssohn, Brahms, Massenet, Fauré ou Wieniawski.
As gravações têm como origem períodos bem diferentes da maturação técnica e artística de Mutter. As primeiras datam de 1978 e as últimas de 1992.
Seus acompanhantes são prestigiosos: James Levine e a Filarmônica de Viena, a mesma orquestra dirigida por Karajan, que em outras faixas rege a sua Filarmônica de Berlim, a mesma com que acompanhou Mutter em Salzburgo, pouco antes de sua morte.

Discos: Música Antiqua de Colônia (dir. Reinhard Goebel) e Anne-Sophie Mutter (violino), acompanhada pelas filarmônicas de Viena e de Berlim.
Lançamento: Polygram (importado)
Preço: R$ 15,28 (recomendado)

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