São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líder egípcio falta e dificulta acordo

'Bibi', Arafat e Hussein se reúnem hoje nos EUA

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

A recusa do presidente do Egito, Hosni Mubarak, em participar da cúpula sobre o Oriente Médio que começa hoje em Washington joga sombra sobre o encontro, que vai reunir o presidente Iasser Arafat (ANP, Autoridade Nacional Palestina), o premiê Binyamin "Bibi" Netanyahu (Israel) e o rei Hussein (Jordânia).
O presidente Bill Clinton e o secretário de Estado Warren Christopher são os anfitriões. Arafat chegou a dizer que poderia não ir caso Mubarak se ausentasse.
A cúpula foi marcada depois que a abertura de um túnel israelense perto de locais sagrados islâmicos em Jerusalém provocou revolta entre palestinos na semana passada. A crise culminou em conflitos que deixaram cerca de 70 mortos.
A decisão do egípcio foi comunicada ao aliado Arafat em reunião na manhã de ontem em Alexandria (Egito). Alegou falta de perspectiva de resultados concretos.
Mubarak não está indo também por outras razões, como a relação com Israel e o orgulho calculado.
A crise com Israel decorre das duras declarações de Mubarak contra a política de Netanyahu.
O egípcio também não assimilou o fato de a reunião não estar ocorrendo no Cairo -como ele e Arafat queriam, mas "Bibi" recusou.
Paralisia
O processo de paz se encontra parado por causa de recentes decisões de Netanyahu que deixaram os palestinos descontentes.
O premiê israelense não retomou as negociações sobre a retirada dos soldados israelenses de Hebron (Cisjordânia), que deveria ter sido feita em março, e anunciou a ampliação de assentamentos judaicos nos territórios palestinos.
Mas, durante a viagem para Washington, Netanyahu já se mostrou condescendente ao propor negociações contínuas sobre a situação de Hebron e o fechamento dos territórios palestinos.
"Estou propondo que os dois lados se encontrem depois da reunião de Washington em negociações contínuas até que um acordo seja atingido", afirmou, durante parada para abastecimento em Amsterdã, na Holanda.
O premiê afirmou que o túnel não será discutido no encontro.
Após se encontrar com Mubarak, Arafat partiu para Luxemburgo. Lá, disse estar "de mente aberta" e afirmou que está esperando um "resultado concreto".
Na Europa, o presidente da ANP se reuniu com chanceleres da UE (União Européia) para discutir a reunião de cúpula.
Em nome da UE, o chanceler da Irlanda, Dick Spring, disse que os europeus vão continuar a financiar o governo autônomo palestino. E criticou Israel: "Precisamos de um forte sinal de que o governo israelense também está comprometido com a paz".
Mundo árabe
Apesar da presença do chanceler egípcio, Amr Moussa, a ausência de Mubarak complica o valor das decisões eventualmente tomadas, porque ele é hoje o principal líder do mundo árabe. O rei Hussein, da Jordânia, é respeitado nos meios árabes e pelos EUA. Mas seu país não tem a importância estratégica e militar do Egito.
O presidente dos EUA pode ser quem mais tem a perder hoje. Com eleições marcadas para 5 de novembro, um fracasso na cúpula pode significar uma perigosa aproximação de seu concorrente principal, o republicano Bob Dole.
LEIA MAIS sobre o conflito no Oriente Médio à página seguinte

Texto Anterior: Criada vacina contra esclerose múltipla
Próximo Texto: Hebron será o ponto principal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.