São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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Nexo entre presente e futuro

JORGE W. SIMEIRA JACOB

Nos últimos 30 anos, surgiu e prosperou nos EUA a grande maioria dos 2.700 "think tanks" lá existentes. Hoje são quase tão numerosos quanto as universidades. Ainda que não se possa equiparar em dimensão e poder às universidades, os "think tanks" estão se firmando como respeitáveis centros intelectuais voltados para o estudo e a proposta de políticas públicas.
O fenômeno (chamemo-lo assim) "think tank" assenta-se em dois pilares: primeiro, a perda, pelas universidades americanas (que antes monopolizavam a produção intelectual), de parte de sua capacidade de dar respostas aos crescentes desafios da sociedade moderna, após a 2ª Guerra, na velocidade e na profundidade exigidas; e, segundo, pelo sentimento cívico-patriótico do norte-americano que, individualista no plano pessoal, é associativo no enfrentamento dos desafios que exigem ação coletiva-associativa.
Tocqueville tinha razão: estava ali a razão da prosperidade daquela nação!
A América Latina vem seguindo timidamente a experiência norte-americana. E o Brasil vem mesmo atrás de vizinhos como Argentina, Chile, Peru e até Guatemala -país centro-americano onde existe a Universidade Francisco Marroquin, que se tem destacado como importante "think tank" naquele e em vários outros países latino-americanos.
Talvez, ao contrário dos hispânicos, possamos nos explicar com o fato de que os desastres "peronismo", "allendismo" e "garceísmo" antecederam, no tempo, a destruição da base política-econômica e social daqueles países, o que no Brasil só se aprofundou mais tarde com o "Brasil Grande", o "Tudo pelo Social" e o "Vencer ou Vencer".
Doutra parte, as nossas universidades -após a fase histórica anterior a 1950- foram perdendo as características clássicas que as definiam. Foram deixando de ser um centro de estudo e ensino do conhecimento universalizado. E, por submeterem-se à dialética-dogmática de uma pretensa ciência e à dependência total das verbas governamentais, perderam a legitimidade como formuladoras de políticas públicas nacionais.
O espaço para o desenvolvimento dos "think tanks" estava aberto. Principalmente para os que procedem com a pureza que a missão exige: não ter qualquer dependência de governo; não ter vínculos político-partidários; não estar a serviço de causas pessoais -ainda que coincidentes com suas crenças.
Sobretudo, a sua ação só tem um mandante: a formulação e a disseminação de idéias, sob o melhor do exercício intelectualizado, que é a busca da verdade e a desmistificação de falácias; a divulgação do conhecimento, da informação e das suas conclusões, sem dogmatismo, mas para provocar o debate, a discussão e o entendimento.
Não sendo a verdade do domínio exclusivo de alguém, é vital para o sistema político a existência de entidades com objetivos e perspectivas as mais diversificadas. É do confronto de idéias que devem surgir propostas que sejam as melhores alternativas para a sociedade. A tolerância para com a opinião divergente é alicerce da vida democrática, assim como a paciência na obtenção de resultados é fundamento da economia de mercado. O contrário -intolerância e impaciência- abre espaço para a arrogância e o totalitarismo.
O Instituto Liberal é um "think tank" puro! Desde sua fundação, em 1983, colocou-se na vanguarda do pensamento brasileiro. Foi contra as crenças então em moda. Alertou para os riscos do autoritarismo, do Estado absoluto e para as virtudes da democracia representativa, com o rodízio no poder dentro do Estado de Direito; para a falência da economia de comando, a decadência do mercantilismo e as vantagens da economia de mercado, da globalização, do equilíbrio fiscal e da moeda estável.
E, sobretudo, não perdeu de vista as minorias -combatendo qualquer tipo de discriminação-; não perdeu de vista os mais pobres -argumentando contra o imposto inflacionário e o desestímulo a investimentos geradores de emprego e salários-; não perdeu de vista o Estado de Direito -pedindo um governo mínimo, eficaz, em que a lei e a ordem tivessem império, para que a liberdade individual fosse assegurada.
Nesses anos, os instrumentos de ação do Instituto Liberal foram livros, palestras, cursos, seminários, "policy papers", no exercício puro do trabalho intelectual e na crença de que as idéias têm consequências... e tiveram!
A missão do Instituto Liberal e das congêneres, independentemente da filosofia que defendam, nunca estará terminada, porque nunca deixará de existir a necessidade de estabelecer um nexo entre o Estado e o indivíduo, entre a liberdade e a responsabilidade, entre os bens e a necessidade, entre o presente e o futuro.

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