São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Dúvida é com quem ficou o lucro das operações

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
EDITOR DO PAINEL S/A

A principal dúvida do mercado financeiro sobre as operações com títulos da prefeitura feitas pelo candidato Celso Pitta é: quem ficou com o ganho da operação.
O então secretário de Finanças Celso Pitta fez uma série de transações de venda e compra de títulos do município para, segundo ele, preservar a liquidez dos papéis. Ou seja: garantir que existiria mercado para a venda de novos títulos.
Em alguns casos, a prefeitura trocou os títulos por papéis com vencimento mais curto (como nas operações com o Banco Irmãos Guimarães, que já quebrou).
Em outros, para manter os mesmos prazos, acabou aumentando o lucro das instituições compradoras. É o caso de uma operação realizada -das várias feitas em 1º de dezembro de 1994- com a distribuidora carioca Contrato.
Um dos modos para aumentar o ganho é "fabricar" lucro em uma operação. Basta, por exemplo, recomprar títulos pagando mais do que recebeu quando os vendeu.
A diferença, no caso de uma operação realizada com a distribuidora Contrato, foi de R$ 1,7 milhão -lucro que, em tese, teria ficado com a distribuidora.
Mas, para os analistas ouvidos pela Folha (e que preferiram que seus nomes não fossem publicados), normalmente o lucro é fabricado em uma instituição de menor porte (a Contrato, no caso), para, posteriormente, por intermédio de outras operações, ser repassado ao verdadeiro interessado.
Como essa passagem nem sempre é feita sem problemas de ordem fiscal, cabe a argumentação de Pitta de que a investigação do BC visaria identificar possíveis irregularidades cometidas por instituições financeiras (corretoras, distribuidoras) e não pela prefeitura.
Mas, avaliam os analistas, não se repassa um ganho sem um acerto prévio com o emissor do papel (no caso, a prefeitura).
É justamente essa parte da operação que permanece obscura.
Se, dizem os analistas, o ganho foi repassado para quem comprou os títulos, as operações tiveram mesmo como objetivo, como afirma o então secretário, garantir liquidez -o que é usual no mercado financeiro em momentos de crise como o que ocorreu em final de 1994.
Ou seja, a prefeitura pagou o preço exigido na época (mais alto do que quando vendeu seus títulos anteriormente) para garantir a venda de seus títulos.
O balanço do final da distribuidora Contrato mostra uma instituição muito pequena.
Segundo dados obtidos no Sisbacen (sistema de informações do Banco Central), a Contrato fechou o ano de 94 com ativos totais de R$ 2,035 milhões. O patrimônio líquido foi de R$ 643 mil e um resultado positivo no ano inteiro de R$ 191 mil. Com um resultado como este, avalia o mercado, dificilmente o ganho da operação teria ficado com a Contrato.
No final do dia, circulou no mercado que o PPB ameaçava ressuscitar a CPI dos bancos.

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