São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Para Heloisa, rabo-de-cavalo é arma

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

Maior surpresa dessas eleições, a petista Heloisa Helena lidera todas as pesquisas de intenção de voto em Maceió com uma estratégia ousada: transformou sua falta de glamour e vaidade na principal arma visual da campanha do PT.
"O pessoal da campanha pede: 'Solta esse rabo-de-cavalo', 'passa um batom', 'põe uma roupa bonita'. Mas não cedo. As pessoas dessa cidade já estão acostumadas comigo assim", diz Heloisa.
Além do rabo-de-cavalo, Heloisa também não abre mão dos óculos, que usou na TV e em todas as fotos da campanha. "Aceito outras sugestões, mas essas, de aparência, não aceito", diz.
O radicalismo em matéria de rabo-de-cavalo levou a coordenação da campanha a adaptar o famoso símbolo do PT às necessidades locais. A estrela do PT ganhou, adivinhe, um rabo-de-cavalo.
"Arma, fique longe"
Mais do que as discussões sobre a sua aparência, a violência política é o principal problema enfrentado por Heloisa em sua campanha.
Primeira deputada estadual pelo PT em Alagoas, Heloisa não sabe dizer quantas ameaças anônimas de morte já recebeu. Na porta do gabinete na Assembléia, um cartaz mostra as dificuldades que enfrenta: "Arma, fique longe".
"Se eu tivesse que morrer, já tinha morrido. O que eu já peguei de briga aqui...", suspira.
Heloisa sabe atirar ("Não sou uma exímia atiradora, mas sei me virar"), mas não anda armada. "O que adianta eu andar com o 38 na bolsa se eles andam com espingarda, metralhadora e rifle. Só vai servir para dizerem que me mataram em legítima defesa."
Pergunta: Para se eleger no Nordeste, mulher tem que ser macho?
Resposta: "Mulher, para se eleger, tem que ter coragem. E coragem não é atributo masculino."
Aos 32 anos, Heloisa já passou pelas principais regiões do Estado.
Nascida em Pão de Açúcar, próximo ao rio São Francisco, passou a juventude no agreste, em Palmeira dos Índios, e, aos 16 anos, veio para Maceió. Ou, como diz: "Desabrochei mulher no litoral".
Em Maceió, participou do movimento estudantil, formou-se em enfermagem, entrou para o movimento sindical e, em 92, foi escolhida para vice-prefeita na chapa de Ronaldo Lessa (PSB).
Rompeu com o prefeito em 96, ao não aceitar a indicação da então secretária da Saúde Kátia Born para a sucessão municipal. "Mostramos que uma mulher sozinha, de um partido pequeno, pode bancar uma eleição sozinha."
(MSy)

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