São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Maria Alves sai à rua sem o sobrenome

MAURICIO STYCER
DO ENVIADO ESPECIAL A ARACAJU

Maria do Carmo do Nascimento Alves deixou o seu nome em casa e saiu às ruas, em sua campanha pela Prefeitura de Aracaju, se apresentando apenas como Maria.
Nos outdoors, cartazes, faixas e na propaganda de TV, o único nome da candidata que aparece é Maria. Às vezes, Maria do Carmo. É uma mulher sem sobrenome.
Esta opção é motivo de muita discussão em Aracaju, onde Maria (PFL), João Gama (PMDB) e Ismael Silva (PT) disputam com chances a ida ao segundo turno.
Ela jura que não está fazendo isso para esconder o seu sobrenome, Alves, um dos mais tradicionais na política sergipana, mas para se afirmar enquanto uma mulher independente e com luz própria.
Seu marido, João Alves Filho, já foi governador de Sergipe duas vezes. Para os adversários, se Maria do Carmo for eleita, Alves larga com boas chances na corrida pelo governo do Estado em 98.
"Dizem que escondo João, que João é que vai mandar. Não escondo. Mas a candidata sou eu", diz. "Jamais me prestaria a ser escada para o meu marido".
Maria do Carmo se formou em direito, mas quase não exerceu a profissão. Logo se casou e foi trabalhar na empresa do marido, a construtora Habitacional. Hoje, é vice-presidente-executiva do grupo, que também tem negócios na área de comunicações.
"Esposo de prefeita"
"Sempre lutei pelo meu espaço. Para o grande público, eu sou a mulher do ex-governador, ou a mulher do dono da empresa. Mas não sou. Estou vencendo pela minha competência", diz.
O problema de identidade é tão grande que Maria do Carmo é a única candidata ouvida pela Folha a reconhecer ter procurado no dicionário o equivalente masculino para a palavra "primeira-dama".
"Não existe. Existe o esposo da prefeita. Só isso. Ele (João Alves Filho) não terá nenhuma função no governo. Ele me auxiliará como técnico, apenas isso", promete.
Mãe de três filhos e avó de uma neta, Maria do Carmo diz que exerceu dupla ou tripla jornada, como mãe, executiva e mulher de político. "Você pode ter o maior dinheiro do mundo, quantas governantas quiser, mas a função de mãe você não pode delegar."
Proteção divina
Maria do Carmo afirma ter feito campanha em Aracaju sem o auxílio de seguranças armados.
"Quem me protege é Deus. Ando sem seguranças, apesar de, às vezes, ficar preocupada", diz a candidata, que está sempre com um terço enrolado no pulso. "Nos momentos de folga, eu rezo".
Vaidosa, reclama da falta de tempo na campanha para se cuidar. Anda de calça e camiseta, passa um batom e um pouco de maquiagem. "Mas no final do dia a plástica já está toda desmontada".
Durante gravação do programa eleitoral, na semana passada, deveria escolher entre usar uma blusa vermelha, vistosa, e outra, mais discreta. Optou pela mais vistosa.
"Mas essa é tão bonita que rouba a cena", reclamou o diretor do programa. Insatisfeita, mas obediente, Maria vestiu a blusa mais simples.
(MSy)

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