São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Itamaraty vê 'jogo de cena'

DENISE CHRISPIM MARIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Autoridades do governo brasileiro avaliaram ontem, em reserva, o anúncio dos Estados Unidos de repúdio ao regime automotivo como um jogo de cena.
Isso porque as três maiores montadoras dos EUA -Ford, General Motors e Chrysler- se beneficiam de todas as vantagens garantidas pelo regime automotivo.
A MP (medida provisória) do regime automotivo traz o conjunto de regras -e isenções fiscais- para a importação de veículos e autopeças realizadas por montadoras estabelecidas no país. O texto deve ser reeditado na próxima semana.
A Folha apurou que, para o governo brasileiro, a atitude parece uma "questão de princípio" para os EUA. Ou seja, mesmo favorecidos, os norte-americanos não poderiam ser omissos em relação a medidas que podem restringir o comércio com outros países.
Nesse ponto entra a pressão do Japão, um dos maiores parceiros comerciais e investidores dos EUA. O Japão também é o mais forte opositor ao regime automotivo brasileiro.
Em nota oficial divulgada ontem, o Itamaraty argumenta que estará disposto a realizar consultas com os Estados Unidos e outros parceiros comerciais sobre o tema.
Essas consultas devem ser informais e distantes da OMC (Organização Mundial do Comércio), onde permanece emperrada a negociação com os japoneses.
A nota ainda reforça, em dois itens, que o regime brasileiro "não tem qualquer impacto discriminatório sobre as exportações norte-americanas".
A cada ano, o departamento comercial do governo dos EUA faz estudos para identificar as práticas de outros países que estariam prejudicando suas exportações.
Desta vez, o alarde foi considerado maior, segundo as fontes consultadas, o que seria coerente com a propaganda de reeleição do presidente Bill Clinton, que defende o aumento da produção e do emprego daquele país.
O anúncio norte-americano ocorreu um dia antes das reuniões técnicas sobre as restrições que os EUA impõem às importações de produtos siderúrgicos do Brasil.
O ministro Luiz Felipe Lampreia (Relações Exteriores) esteve nos EUA, no mês passado, para convencer o governo norte-americano a não questionar o regime automotivo brasileiro na OMC (Organização Mundial do Comércio).
Lampreia teve encontros com o secretário de Estado, Warren Christopher, com secretário de Comércio, Mickey Kantor, e com a representante de Comércio, Charlene Barshefsky -que anunciou ontem as investigações do governo norte-americano.

Texto Anterior: Entenda as medidas
Próximo Texto: MP dos carros está na 15ª versão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.