São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Terrorismo burguês

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Fatia significativa da burguesia brasileira tem uma incontrolável vocação para o terrorismo retórico. Chegou ao paroxismo com a frase de Mário Amato, então presidente da Fiesp, segundo a qual, se Luiz Inácio Lula da Silva ganhasse a eleição (de 1989), uns 800 mil empresários fugiriam do país.
Agora, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) ataca de novo, com a avaliação de que, sem a aprovação da reeleição, a economia correria "riscos importantes".
Bobagem. Haveria pilhas de argumentos contra a tese, mas basta um: nem mesmo o inevitável tumulto institucional que causa um processo de impeachment, como ocorreu em 92, chegou a ameaçar a sobrevivência da pátria ou de sua economia.
O pior de tudo é que essa fatia da burguesia faz terrorismo sem causa. Seria mais simples, honesto e decente dizer o seguinte: o atual governo tem políticas que são favoráveis aos negócios ("business-friendly", para usar a língua que ela mais entende). Logo, nada mais justo do que dar ao presidente o direito de disputar um novo mandato e, mais, elegê-lo de novo.
Pronto. Estimular os negócios, desde que honestos, não é pecado.
Mas, não. Esse pessoal tem a insuportável mania de prever o dilúvio universal se as coisas não acontecerem exatamente como quer.
Com isso, só consegue despertar suspeitas sobre uma tese que é tão legítima quanto a oposição a ela. Reeleição também não é pecado. Mas, com esse "tremendismo" associado a ela, fica-se, até pelo retrospecto, com o receio de que esconda algum trambique.
Ainda mais que setores do governo vêm com a mesma lengalenga, como o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, segundo o qual a reeleição catapulta o crescimento para 9% ao ano.
Sem reeleição, "risco importante". Com ela, um Brasil cor-de-rosa. Parece a nova pomada maravilha, que cura desde pé-de-atleta até desemprego. É muito pouco sério.

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