São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Homens são homens

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Coronel de 46 anos, casado, pai de duas filhas, comandante de um dos regimentos mais tradicionais do Exército brasileiro, foi preso semana passada em transa homossexual dentro de seu carro, numa rua aqui no Rio. Não faz muito, um ator inglês também foi flagrado em ato semelhante, só que com uma prostituta de Los Angeles.
A castidade das ruas, seja no Rio ou na Califórnia, é um tabu de nossa civilização. Ao coronel foi perguntado por que não foi com seu companheiro para um motel; ele respondeu que "não deu tempo". E acrescentou: "Pintou um clima e perdi a cabeça".
O ator estava momentaneamente desprevenido, a moça deu-lhe um aperitivo, aceitou os US$ 60, mas ganhou muito mais com a publicidade de seus serviços profissionais.
Bem, no caso do coronel tratava-se de uma relação vexatória quando flagrada pela sociedade que ainda se considera heterossexual. É cada vez maior o número desses casos nas classes tidas como imunes a essas práticas: clero e Forças Armadas.
Seria o caso de se perguntar: se a união entre homossexuais já merece discussão no Congresso, com vistas a uma legalização para efeitos de herança e divisão de bens, por que esses casos ainda escandalizam?
Tanto no clero como na classe militar, o homossexualismo é ainda uma besta negra. No clero, por força do voto de castidade a que os sacerdotes se obrigam voluntariamente -é bom que se diga.
Com os militares, nenhum deles faz voto de castidade, mas fica subentendido que eles deverão ser machos -e machos não fazem certas coisas. Evidente que a liberalização em marcha não inclui atos sexuais em logradouros públicos -e por aí o coronel e seu parceiro merecem ser punidos.
Mas o ato em si, desde que pintou o tal clima, não é motivo para o mundo vir abaixo. Os militares são homens. E Shakespeare disse tudo quando disse: "Men are men".

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