São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Exportação e retórica

ANTONIO DELFIM NETTO

A cada dia que passa ficam mais nítidas a inconsistência da política cambial e a armadilha que ela construiu para o nosso crescimento econômico.
Ao extraordinário sucesso no combate à inflação no curto prazo contrapõe-se o acúmulo de dificuldades no longo prazo.
A última Carta de Conjuntura do Ipea (nº 66, agosto), que divulga as análises do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC), traz um ponderado editorial chamando a atenção para algumas dessas dificuldades.
O ponto interessante é que pela primeira vez o GAC aprofunda ligeiramente o tema, não deixando de registrar sua crença otimista de que "o ajuste às novas condições econômicas, ligadas à globalização da produção, gera num primeiro momento um crescimento mais acelerado das importações, principalmente de bens intermediários e de capital, que num segundo momento produzem ganhos de eficiência e alavancam o crescimento das exportações".
E complementa: "Isto traz à tona o fato de que a restrição externa não foi eliminada. No contexto de uma economia aberta, as inconsistências internas se transformam não em inflação mais elevada, mas em desequilíbrios no balanço de pagamentos".
Fecha a análise afirmando que "este raciocínio leva à conclusão que, enquanto não se completam os ajustes necessários à consistência macroeconômica interna (sic), o único caminhão para o crescimento sustentável é o aumento das exportações...".
Ora, o resultado das exportações nos últimos 12 meses é, na melhor das hipóteses, medíocre. Damos abaixo os índices de aumento das exportações em volume e em valor entre julho de 1995/junho de 1996 e julho de 1994/junho de 1995.

É claro que esses números são sensíveis ao período escolhido, mas com exceção dos semimanufaturados (que estão incluídos nos industrializados), cujas exportações se explicam principalmente por motivos não-cambiais, verificamos um desempenho ridículo: o aumento do valor das exportações nos últimos 12 meses de 6,9% deve-se a 5,8% de aumento de preço e apenas 1% de aumento de quantidade.
Há quatro anos não há aumento físico das exportações!
Não adianta ficar discutindo retoricamente se há ou não "defasagem" cambial ou "bananal".
Os números mostram que o setor exportador tem sido incapaz de gerar o aumento de divisas necessário para manter a abertura importadora se a taxa de crescimento do produto for um pouco mais vigorosa. Isso nos condena à estagnação, ao desemprego e ao desequilíbrio fiscal.
É evidente que as recentes medidas de estímulo à exportação ajudam, mas ao custo de maior déficit fiscal. E então, estamos nos aproximando ou nos afastando do equilíbrio?

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