São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Erundina muda tom e diz que Maluf "é atraso"

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois de terminado o primeiro turno da eleição municipal, a petista Luiza Erundina abandonou o discurso cauteloso e partiu para a ofensiva em relação ao prefeito Paulo Maluf (PPB), que sustenta a candidatura Celso Pitta.
Ontem à tarde, em entrevista coletiva, a ex-prefeita de São Paulo (1989-1992) já demonstrou que pretende demarcar, com mais rigor, o espaço do PT na cidade, comparando o que chamou de duas concepções de governo diferentes e opostas.
Para isso, Erundina conta com a possibilidade de reunir em torno do PT outras forças políticas preocupadas com o que representa, segundo ela, avanço do malufismo em nível nacional -entre elas o PSDB, o PMDB e até o PDT. O PT acena desde o início da campanha com um governo de coalizão.
"O que vai caracterizar o segundo turno são as forças que estão contra o autoritarismo, a corrupção, o atraso, o velho", disparou a petista, em referência ao atual prefeito paulistano.
"Maluf, aparentemente, se pretende novo por fazer obras arquitetônicas viárias fantásticas. Mas isso é da década de 50, quando se fazia obras só pensando no carro, no transporte individual. A disputa é entre quem é a favor de São Paulo e quem quer se manter na década de 50", emendou a petista.
O tom da entrevista denotou que está encerrado de vez o ciclo da Erundina dócil que pegava gravetos no parque do Ibirapuera.
O problema do PT é como tirar votos de Pitta -cujo nome foi citado por Erundina apenas uma vez durante toda a entrevista.
'Desmontar a mentira'
Questionada pela Folha sobre como o PT pretende tirar pontos do pepebista, já que o resultado do primeiro turno pode apontar uma preferência do eleitor pela suposta "década de 50", a petista reagiu.
"A população não escolheu esse modelo. Veja o tamanho do dinheiro e da máquina que eles (o PPB) usaram. Isso é falta de escrúpulos. Gastaram muito dinheiro, distribuíram muitas camisetas, bonés", alegou Erundina.
Segundo ela, cabe ao PT ter competência para mostrar as diferenças, já que terá tempo igual na TV.
"Vamos ter de desmontar a farsa que foi o governo Maluf e a imagem que ele forjou com a mídia, com mais tempo na TV, com recursos de marketing que falsearam a verdade. Temos de ser capazes de desmontar essa mentira", disse.
Para Erundina, o PT terá de mostrar coisas concretas que revelem o descuido do atual governo com a periferia, e que a cidade "só está bonita na sua parte chique".
Em busca de alianças
A costura de alianças, principalmente com o PSDB, é rota na qual o PT já encontra dificuldades.
O PSDB pediu dez dias para se definir. Um dos complicadores é o fato de o presidente Fernando Henrique Cardoso depender do PPB para tentar aprovar a emenda da reeleição no Congresso.
"Serra fez uma campanha defendendo propostas que são antagônicas às de Maluf", disse Erundina, que espera uma aliança localizada, "em função da complexidade que é o governo federal".
A prefeita se irritou ao ser questionada pela Folha sobre o "PT do sim" e o "PT do não". "O PT diz sim e o PT diz não. Parece que vocês ficam contentes quando vêem divisão no PT. O PT é democrático, tem uma base que carrega o piano e também quer tocar o piano."

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