São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Faltam investimentos

JOSÉ HORACIO GALLI DE FREITAS

A privatização dos portos, tão exigida pelos empresários, por certo não aumentará a eficiência dos serviços porque, na verdade, eles não investem na área portuária e, quando lhes é condicionado um mínimo de investimento, rejeitam com veemência.
Como exemplo, cito o caso da licitação do Tecon (Terminal de Containers), no superporto de Rio Grande (RS), em que o vencedor da licitação deverá imediatamente investir US$ 15 milhões no reaparelhamento do terminal e US$ 40 milhões na duplicação do cais de contêineres, sendo a propositura duramente criticada pelo movimento empresarial gaúcho pró-privatização "Frente de Modernização Portuária".
Desde a promulgação da lei 8.630/93, a privatização é anunciada a partir de quatro portos. Os quais ainda não estão nas mãos dos empresários porque são "carne de pescoço".
Cabedelo (PB) tem apenas um guindaste e atraca um navio a cada 30 dias; Itajaí (SC) é praticamente ocupado por barcos pesqueiros; Porto Velho (RO) e Laguna (SC) são apenas uma marca no mapa, e a movimentação do último não consta nem no anuário do Ministério dos Transportes.
Porém, "filé mignon" a eles interessa: como o porto de Santos (SP) -o maior da América Latina-; o de Paranaguá (PR) -melhor centralizado aos propósitos do Mercosul-; Rio de Janeiro e Sepetiba (RJ); Rio Grande (RS), com o TTS (Terminal de Trigo e Soja, maior complexo da América Latina); e mais: Vitória (ES), Manaus (AM), Salvador (BA), Maceió (AL), Recife (PE), Mucuripe/Fortaleza (CE).
Um empresariado que não investe e os portos que o governo sucateia há 15 anos somente ainda funcionam porque a mão-de-obra é altamente qualificada.
A maioria dos guindastes que foram adquiridos da Alemanha foi montada aqui por engenheiros europeus, que os produziram e ensinaram a operá-los. Duvidamos que, se aqui voltassem, colocariam em operação um dos aparelhos. Com certeza, nem sequer subiriam aos comandos.
Não, o aumento de eficiência passa por grandes investimentos, inclusive de dragagem. Futuramente, quem sabe, os nossos empresários, monopolizados por grupos internacionais, venham a aumentar a eficiência dos serviços dos portos; mas o lucro, é claro, não ficará no Brasil.
Apenas para reflexão: se a iniciativa privada fosse sinônimo de eficiência nos portos, o de Imbituba (SC), único privado do Brasil, não estaria sucateado, desacreditado e completamente falido.

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