São Paulo, sábado, 5 de outubro de 1996
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Não basta privatizar

JORGE A. MARTINS

Transferir simplesmente as responsabilidades de gestão e operação das mãos do Estado para as do capital privado não é garantia de que possamos alcançar a tão desejada eficiência para o sistema de transporte de carga.
Afinal, hoje, 75% desse transporte já ocorre em portos privativos, que são operados por grandes empresas no transporte da carga própria. Além disso, o porto é apenas um ponto pelo qual passa a mercadoria, que, antes do embarque e após o desembarque, precisa ser transportada por outras modalidades.
Portanto como se pode falar em eficiência portuária sem falar em ferrovias e rodovias também eficientes? Só se justifica, então, o discurso pela eficiência no sistema portuário se considerarmos o sistema de transporte como um todo.
O que o Brasil precisa fazer urgentemente é acertar o passo com a história, pensando e construindo um sistema eficiente que consiga ser, de fato e antes de tudo, intermodal.
A privatização só será uma solução se a questão da modernização portuária garantir novos investimentos que a justifiquem.
Para tratar seriamente o tema é preciso que o transporte de carga não seja orientado unicamente pelos interesses de grandes empresas que transportam carga própria ou que se contentam em reservar mercado, sem precisarem concorrer ou investir na ampliação do sistema.
O processo de privatização da rodovia Presidente Dutra não conseguiu garantir, para os próximos 25 anos de concessão, a duplicação da via, que hoje já opera com limites de capacidade.
Enfim, não basta privatizar. Se a economia sofreu por muito tempo a intervenção estatal, é preciso que seja ressaltado o caráter monopolista dessa intervenção.
Se esse caráter se repetir no processo de privatização da infra-estrutura, não se pode esperar que sejam atendidos os interesses da sociedade. Para ter o espírito capitalista é preciso promover a concorrência!

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